quarta-feira, 21 de março de 2012

Não vai encher

Sucedem-se fracassos de bilheteira na cidade da Beira, quando se organizam espectáculos musicais em recintos que nos tempos idos registavam afluência do público. O mais recente foi o de encerramento do Festival de Marrabenta, 14 de Fevereiro - nem os namorados quiseram saber desse evento! O bilhete custava cem meticais. Os artistas Jorge Mamade e Gil Pinto,  consideram que o público perdeu confiança nos organizadores de espectáculos musicais. Esta, para eles, é a razão pela qual verifica-se actualmente fraca aderência de pessoas aos referidos eventos.Segundo Gil Pinto, as barracas são outros lugares que afastam o público dos eventos musicais. Preferem esses estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas a assistir a um “show”.Jorge Mamade sustentou que, ao contrário das décadas passadas, os fazedores de espectáculos ou concertos de hoje fazem-no de forma desorganizada, decepcionando o público“Hoje em dia, quando aparece um espectáculo, a primeira coisa que a pessoa faz é duvidar se estará bem ou não. O evento começa tarde, a aparelhagem não tem estado bem, os artistas aparecem incompletos. Tudo isto decepciona o público”.
Há pouco tempo, aconteceu na Beira o encerramento do Festival da Marrabenta, o qual tinha um palco próprio e boa aparelhagem, mas só faltou o público. Sobre isso, Mamade afirmou que “o dia em que o espectáculo foi realizado não era adequado. Eu quase fiz parte da organização, o evento estava previsto para o dia 11 de Fevereiro, mas os produtores, que estavam em Maputo, decidiram mais tarde que devia ser dia 14. Eu não tinha o poder de decisão e ficou assim. Por outro lado, não houve publicidade. Como é que se faz um espectáculo sem anunciar ao público, para tomar conhecimento?! É impossível, as pessoas têm de saber muito antes que num determinado dia haverá evento tal. A organização de um ‘show’ passa pela boa aparelhagem, local, palco, data da realização e publicidade. É todo um conjunto de coisas que devem ser respeitadas, e nos últimos tempos isso não é observado”.Outra questão  colocada ao artista tem a ver com o facto de num espectáculo em que ele e outros da velha guarda actuam não se ver a nova geração e vice-versa. Por exemplo, no evento do encerramento do Festival da Marrabenta - que teve lugar no Pavilhão dos Desportos da Beira - estavam convidados vários músicos da capital de Sofala, incluindo o Mamade, mas não estiveram jovens tais como a Didácia e a Júlia Duarte, que são uma referência no panorama musical beirense actual.Sobre este aspecto, ele explicou que não há discriminação entre as gerações. “A Júlia Duarte estava fora da cidade, para um concerto. A Didácia encontra-se naquele momento em Maputo a gravar o seu disco. Eu pessoalmente falei com ela, porque queríamos que fizesse parte. Mas, a organização preferiu mais os artistas que cantam marrabenta. Aliás, a actuação era ao vivo e não em ‘play back’. Portanto, não há discriminação”, esclareceu.
O veterano Gil Pinto afirmou que actualmente há “muitos” quiosques, e que  as pessoas têm várias opções de diversão ao contrário do que acontecia há muito tempo. Apontou para os quiosques, que têm tido aderência principalmente aos fins-de-semana, dias em que “se realizam os espectáculos”.Para além disso, segundo o artista, está o factor desorganização dos promotores de espectáculos, o que desencoraja o público a ir assistir os eventos.“Nós artistas apenas somos convidados para ir actuar, mas os produtores de espectáculos precisam de estar mais organizados. Não se deve organizar um espectáculo só porque se pretende ganhar dinheiro, é preciso haver planificação e fazer-se publicidade nos órgãos de informação para que as pessoas tomem conhecimento”, palavras de Gil Pinto.Lembrou que há muito tempo “cantávamos” no campo e pavilhão do Estrela Vermelha, no Ferroviário da Beira, campos da Baixa e Manga, e lá a aderência do público era maior, porém, “hoje em dia nem pensar que vai encher. Há que haver estratégias por parte dos organizadores ou promotores de espectáculos, este assunto é sério”.

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