quinta-feira, 16 de abril de 2020

Desempregados

Quando a Covid-19 chegou, o teatro estava mais sólido. Sobretudo, rejuvenescido. A mulher, neste processo, em constante emancipação. Entretanto, a pandemia quebrou este ritmo e, de certa forma, colocou o artista numa situação crítica. Esta é uma das interpretações à actriz e encenadora, Maria Clotilde.

Maria Clotilde Guirrugo é uma actriz abnegada. É por aí que também encena. Encontra-se, neste momento, a dirigir a companhia de teatro Hanya Artes, sem contar que é uma das beneficiárias da evolução desta arte cénica em Moçambique, afinal, é licenciada em Teatro, pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).Maria Clotilde fez parte de alguns filmes, como “O Murro da Vida”, de António Machaieie. Participou de “Maputo nakurandza”, da brasileira Anadine Zampaulo e “Mosquito”, do português João Nuno Pinto. Participou em mais de 20 peças de teatro, em Moçambique e no estrangeiro. Pode destacar-se, dentre outras, que elencou “Noite das hienas”, uma peça encenada pelo português Fernando Moura Ramos (Teatro da Rainha – Lisboa).

Coronavírus: A arte em suspenso - Magazine Independente - Magazine ...A Covid-19 cancelou-lhe “Os Monólogos da Vagina” – escrito pela autora norte-americana Eve Ensler, espectáculo que dirige, pela Hanya Artes. Estreada em 2019, a peça seria apresentada a 25 de Março passado. Também, a 7 de Abril, no Centro Cultural Franco-Moçambicano. Em ambas ocasiões, pretendia celebrar as mulheres, em dose dupla.Do mesmo modo, a pandemia que surge na China, impediu a aterragem d“Os Monólogos da Vagina”, na cidade da Beira, onde o Coronavírus é outro desastre, depois do ciclone “Idai”. O espectáculo seria apresentado nos finais de Março. Constava da programação do também cancelado Festival do Livro Infantil, da Kulemba Artes. A mesma pandemia coloca em dúvida a reposição d“A Revolta dos Instrumentos”, com os TB50, e a estreia d“Os saltimbancos”.Maria Clotilde, ainda assim, continua com os olhos fixos no teatro. No palco, procura por uma solução para a crise sanitária global, que se assiste. Para ela, a mulher artista está empenhada nesta nova guerra. “Estamos nos trilhos, a andar, lentas ou rápidas”, diz diante da cortina encerrada por uma pandemia sem precedentes. “É um chumbo grosso no peito, não só para as mulheres, mas para os artistas, no geral”.

As mulheres no teatro, explica Maria Clotilde, estão cada vez mais emancipadas. “Estamos mais envolvidas. Nos séculos passados, a mulher não era digna dos palcos. Inclusive, os homens é que faziam papéis femininos. Elas eram muito protegidas. Hoje em dia, nós somos as protagonistas”, disse Maria Clotilde.A actriz e encenadora, disse que está ciente que a mulher artista ainda tem muita estrada por percorrer. “O caminho é único. Devemos nos colocarmos melhores, profissionalmente. Podemos expressar da melhor forma o que sabemos”.

Nesta emancipação, segundo Maria Clotilde, há exemplos a serem seguidos. É o caso, no teatro, de Manuela Soeiro, fundadora do Mutumbela Gogo e directora do Teatro Avenida. Da Kwanja Zawares, da companhia de teatro “Mitsu”. Ou, de tantos outros exemplos, da actriz e professora de teatro, Josefina Massango, que foi directora do curso de Teatro na ECA. “Temos, cada dia, muitas mais mulheres em cena, como actrizes e directoras”, considera. Nessa lógica, “as mulheres dominarão o mundo”, conforme diz Maria Clotilde. “O caminho a seguir é esse. Ser cada vez melhor. Superar a sua própria sabedoria. Testar os seus próprios limites, sem guerrilhas desnecessárias”. Entretanto, para Maria Clotilde, há que centrar esforços para o actual inimigo comum da humanidade, o novo Coronavírus. É em tempos de pandemia, que se percebe o real valor do teatro, que “para além de entreter, é também educativo e de sensibilização cívica”.As limitações impostas pela quarentena, conforme explica Maria Clotilde, levam à inovação. É o lado bom deste tipo de crises. 
Maria Clotilde O. Guirrugo - Home | Facebook
“Não podemos ir à rua, mas podemos chegar às casas do nosso público. Não presencialmente, mas virtualmente. Aliás, o mesmo já se faz na televisão”, destaca.

Maria Clotilde lembra que a crise causada pela pandemia do novo Coronavírus coloca muitos fazedores do teatro numa situação crítica. “Infelizmente, nós os artistas estamos desempregados. Mas, nem por isso, vamos nos dar por vencidos. Vamos arregaçar as mangas, trabalhar, reflectir e pôr em prática novas saídas”. Importa referir que Maria Clotilde já está a inovar. Encontra-se a desenvolver “Live Artes & Conversas”. É um programa online, com um fim claro: “fazer chegar a arte às casas de cada um, sem precisar criar aglomerações”.(Literatas)


Makonde

Mapiko mask - MAKONDE - Mozambique - Catawiki
Moçambique, juntamente com a Tanzânia, deverá em breve submeter a candidatura do mapiko à Património Cultural Imaterial da Humanidade como forma de salvaguardar esta dança e música dos povos Makondes que é cada vez menos praticada pelos jovens na Província de Cabo Delgado.
O desejo não é novo contudo um dos passos iniciais só agora foi dado com a sistematização em livro e CD das origens, história, evolução desta manifestação cultural que incontornável no ciclo vital do povo Makonde e que foram lançados em Maputo pela Ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula.
Embora seja um trabalho que herda do seu antecessor a nova titular da Cultura e Turismo destacou a importância do trabalho que além de poder salvaguardar a dança mapiko visa, “a curto e médio prazos, assegurar que cada cidadão do Mundo, em qualquer lugar em que se encontre, possa também desfrutar e se deleitar desta preciosidade cultural”.
“Por isso estamos empenhados em que possamos, conjuntamente com os nossos irmãos da Tanzânia, inscrever esta manifestação cultural na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, como recomenda a Convenção da UNESCO, de 2003, sobre a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Entendemos que desta forma, estará assegurada a perenidade e sustentabilidade desta dança, para o usufruto das actuais e futuras gerações”, disse Eldevina Materula.
Paradoxalmente o financiador desta pretensão de Moçambique é um país que em 2019 deixou de ser membro da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
A obra revela que inicialmente “a dança mapiko era praticada nos ritos de iniciação, likumbi, aspecto que corporiza a sua génese sócio-cultural.
O surgimento da expressão mapiko para designar esta dança, parece estar também associada a outro acontecimento, xinantuala, que significa roubo de mulheres”. Com o tempo esta expressão cultural, cuja a denominação identifica a máscara, o dançarino mascarado e a música, passou a ser exibida aquando a celebração do primeiro ano após o desaparecimento físico de uma figura emblemática na comunidade.
O estudo refere que devido ao “processo sócio-histórico caracterizado pela conjugação de influencias exógenas e endógenas contribuiu para a emergência de mudanças e rupturas na comunidade Makonde do Planalto de Mueda. Estas dinâmicas também fizeram-se sentir na prática da dança mapiko”.
Dança Mapiko - Festival Nacional da cultura Moçambicana 2010 - YouTube“(...) Nos tempo actuais, e com base na composição etária dos grupos analisados, verifica-se que o grau de adesão dos mais jovens tem diminuído. Assim, a maioria dos grupos de dança mapiko é composta por pessoas de idade relativamente avançada, o que contribui para a descontinuidade do processo de transmissão do conhecimento relacionado a essa expressão cultural”, conclui o documento que ainda não está disponível na internet.
A dança é a principal expressão cultural em Moçambique onde existem mais de 6 mil grupos a maioria nas províncias de Niassa e de Cabo Delgado.