sexta-feira, 24 de março de 2023

Medo que se habituem a ouvir música de má qualidade

Chama-se Ebenezer Sengo. Seu sonho de infância era estudar biologia aplicada. No secundário chegou até a estudar ciências com biologia. Mas durante esse percurso o gosto pela música intensificou-se com o gospel na igreja. Começara com a música  em tenra idade com o pai que toca guitarra como hobby. Na hora de fazer universidade ficou confuso entre fazer biologia aplicada ou música.

Escolheu música.

E estudou engenharia de som na terra de Nelson Mandela e Frederic Declerc. Regressado à pátria amada trabalha como produtor desde 2019 com artistas como Lizha James, Ubaka entre outros, e é instrumentista de bandas de diversos estilos musicais.

Como produtor tenho sofrido com alguns músicos moçambicanos que têm uma noção deturpada sobre o que é qualidade.

Pedimos que nos esclarecesse a sua observação e então explicou, “Repare, a música estrangeira consegue penetrar no nosso mercado e causar um grande impacto. O mesmo não acontece com a nossa música no estrangeiro. Isso deve-se essencialmente à qualidade. A estrangeira tem, e a nossa não tem. 

Qualidade significa em primeiro lugar garantir coerência musical numa criação desde a concepção até à sua colocação no mercado, estou a falar de letra, composição, interpretação, masterização e marketing. Não são poucas as vezes que sou contactado por músicos que já têm a música concebida na base de uma noção deturpada do que é qualidade. Por exemplo, numa música que não requer bases eles querem base ou volume alto! Quando lhes confronto com as regras estabelecidas pelo conhecimento científico para garantir coerência musical não são raras as vezes que dizem, Este produtor não é criativo!”.

O entrevistado garantiu que a qualidade tem muito mais a ver com conhecimento do que com estúdios. “Em todo mundo, de uma forma geral trabalha-se em estúdios pequenos. E em Moçambique temos estúdios suficientes para garantir qualidade com padrões internacionais, desde que apliquemos conhecimento científico para maximizar a nossa criatividade”.

Para terminar disse estar esperançado que num futuro próximo os músicos e técnicos conseguirão ultrapassar os limites de conhecimento que afecta a qualidade dos seus trabalhos. A existência de escolas de formação musical até de nível superior é um indicativo certo disso.

– Quero acreditar que os músicos e técnicos deixarão de trabalhar num futuro breve na base de pré-sets. As músicas são criadas e ajustadas a um pré-set já estabelecido, o que limita a criatividade e confronta negativamente regras estabelecidas pelo conhecimento científico.

 


Pérola do Índico

 

 




Horizonte poético

 

" Os poemas encontram-se para lá do

 horizonte num lugar muito longínquo,

 onde só alguns poetas lá chegam.



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quarta-feira, 3 de agosto de 2022

“Somewhere Out There”

O som do piano nas mãos da Alena Bravo cruzou-se com a voz do jovem tenor português José de Eça dando início à segunda série de concertos da temporada de música clássica 2022 a cargo do projecto Xiquitsi. Ao ritmo de “Parlame d’amore Mariú” de Vittorio de Sicca, o dueto deu vida e luz a três canções clássicas napolitanas.

Mariana Carrilho subiu ao palco e deliciou o público com a sua vivacidade e forte marcação vocal, com diferentes variações nos tons e uma melodia encantadora em três temas distintos, seguindo-se o jovem Inérzio Macome com o seu violoncelo.

Um dos pontos altos da noite foi a actuação da orquestra Xiquitsi, sob a regência da maestrina Kika Materula e na voz de Xixel Langa e Déuscio Vembane, os quais deram um espetáculo, sem igual, que ganhou forma corporizando clássicos como “Somewhere Out There” de James Horner, Barry Mann e Cynthia Well.

Contudo, os clássicos nacionais não podiam ser deixados de fora, e na voz do dueto de Xixel e Déuscio, interpretaram Fany Mpfumo dando vida a “Avasati Va Lomu”, momento que o público fez questão de acompanhar dando ainda mais vida à cultura nacional. Esta série de concertos conta com o apoio do Absa Bank Moçambique, uma das instituições bancárias de referência no país. Pedro Carvalho, administrador do Absa Bank Moçambique, assinalou que a série de concertos é mais uma prova do sucesso deste projecto.

 “Para nós, é um orgulho testemunhar a evolução destes jovens talentos nacionais. São iniciativas como estas que impactam positivamente a vida dos jovens e nas quais vemos incorporados os valores que nos movem e nos fazem querer ir cada vez mais longe na promoção da arte, cultura e educação”, frisou.


Por seu turno, a Maestrina Kika Materula encerrou o momento afirmando “este é um momento muito especial para nós, estamos muito felizes com todos que se fizeram presentes e servimo-nos desta oportunidade para reiterar que pretendemos continuar a trabalhar para contemplar mais moçambicanos nesta iniciativa. O Xiquitsi efectivamente está a crescer, este projecto começou pequeno e hoje, nove anos depois este é o resultado. Quando começámos, o grupo era composto por estrangeiros, os concertos eram feitos 100% por músicos internacionais, no entanto, hoje, conseguimos ter o palco composto maioritariamente por solistas moçambicanos.”

O projecto Xiquitsi – Orquestra e Coro conferem formação em instrumentos de corda, sopro, percussão e voz, procurando promover a inserção social e a possibilidade de mudança na vida de crianças e adolescentes que, através da prática colectiva de música, adquirem ferramentas essenciais para o desenvolvimento pleno das suas capacidades.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Kinachukuro

 Depois de muitos anos na capital do país, Maputo, na busca das melhores condições de vida, Momade Ali Faque voltou às raízes em Nampula, onde exerce a política ativa ao serviço do maior partido da oposição, a Renamo, e ocupa o cargo de Director de Cultura no Conselho Autárquico de Nampula e nas horas vagas se dedica à música. Foi como político, que NGANI teve um dedo de conversa com o artista na semana finda, para ouvir de si sobre as suas aspirações na arte de negociação e compatibilizar interesses (política), assim como a sua visão sobre o rumor em que Moçambique está a tomar. Para Ali Faque, “o encravado” e justificação de tudo por causa da tomada de espirito país que reina nos dirigentes atuais que são selecionados de várias sociedades na tomada de decisões, como modus operandi,sobretudo na aplicação de políticas públicas para o bem das comunidades. Resultado: o custo de vida tende a agravar-se cada vez mais, sufocando as classes mais baixas da sociedade. Ali Faque citou o escândalo das ocultas o mais visível do câncer da forma que moça corrói o aparelho do Estado. Para si, as autoridades governamentais pela inclusão da cultura, pautam semblante a política que é visível dos filhos. “O nosso governo é resolvido pelo cenário em que encontramos nos. Estamos a ser coroados pela desgraça porque somos excluídos na tomada de decisões para o desenvolvimento do país. O governo fala sempre de inclusão, mas na prática revela o contrário”, comentou. Como forma de inverter o estágio em que o país se encontra,Sugira ao governo a valorizar o poder de compra dos cidadãos da baixa renda. “Tem que se olhar e dar prioridade ao poder de compra da população. Conquistadores internos e externos para fornecedores em investidores em nosso país, assim como outros dependem dos únicos”, frisou.

Sobre a sua afiliação à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição no país, Ali Faque disse que começou nas últimas iniquidades, cantando nos eventos marcados como formação política, mas pagou muito porque foi severamente crítico e excluído dos grandes da cultura no país pela Frelimo. “Desde que me filiei à Renamo, as críticas não param. Vou viver de ameaças, mas sempre firme nas decisões porque a lei está clara, todo cidadão tem direito de escolha”, sustentou. Atualmente a desempenhar o Diretor da Cultura no Autárquico de Carga, Ali Faque reafirmou o seu compromisso em continuar a exercer a política pelo partido que segue por Ossufo Momade. “Não vejo nenhum mal, Ali Faque está na Renamo. Aliás, os músicos são da Frelimo muitos muitos. Roberto Chitsondzo, Elvira Viegas, o nosso contemporâneo Víctor Salimo, entre outros, pertence a Frelimo. E todos nós somos filhos de Moçambique.Desejo a mudança do cenário atual. Vamos cimentar a cultura de convivência pacífica”, comentou.

Instado sobre o estágio atual  da música moçambicana, o autor do perpétuo Kinachukuro, uma composição que alavancou a sua carreira tendo granjeado a simpatia de milhares de fãs e admiradores, acusando os trovadores da nova geração de roubo à população. “Não temos músicos nos dias que correm, apenas temos cantantes ou amadores. Aquele que canta na base de teclados do computador é músico? Esse é ladrão. Ser músico é ter instrumentos e cantar ao vivo para as pessoas”, explicou.

Durante a conversa com NGANI, o conceituado músico crítico ou igualmente o silêncio das pessoas que velar pela cultura no país afirma, mas não o fazem e que é possível viver da música em Moçambique, acrescentando que depende exclusivamente da vontade de cada músico. “Eu tenho uma experiência invejável. Não espero que alguém venha me convidar.

Pego no meu instrumento musical e vou atrás de dinheiro. Canto nos restaurantes, bares e sempre saio com alguns valores para sustentar a minha família. Defini isso porque aqui em Moçambique dificilmente é reconhecido em vida”, rematou.

 Momade Ali Faque tem 52 anos de idade e é natural de Angoche. Teve uma infância conturbada devido à morte pais e na música uma forma precoce de sua dor. Em 1988 foi acolhido pela banda da Escola Militar de Nampula, actualmente Academia Samora Machel, onde era vocalista. Teve uma passagem bandas Amplitude e Relâmpago em 1989, mas as suas músicas ganharam mais peso quando se juntou à banda Safari, criada na década 90 pelo músico Beto Magonzana, na província de Maputo. Actualmente, vive na cidade de Nampula e conta com 3 filhos.

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Até já, é já aí.....


 

NaKupenda

Vem de uma família humilde da cidade da Beira, província de Sofala. Desde criança, sempre esteve apaixonada pela dança, mas, ao longo do tempo, desenvolveu um amor pela música e acredita que, através dela, pode louvar a Jesus e tocar milhares de corações. Conheça a história de Marta Vilanculos, a grande vencedora da sétima edição do Fama Show.

A voz de Nelson Nhachungue, vencedor do Fama Show edição 2005, anunciava Marta Vilanculos, como a grande vencedora da 7ª edição do reality show, realizado em directo na STV. A primeira classificada não escondia a felicidade no rosto, exibiu o prémio e, de seguida, cantou, em forma de agradecimento a Deus e dedicou à sua filha. Na verdade, aquele era o culminar de uma jornada que não foi nada fácil, desde a própria história de vida de Marta Vilanculos até à sua participação no Fama Show.

Natural da Beira, província de Sofala, Marta Vilanculos tem a sua história dividida entre a sua terra natal e a província de Inhambane, casa do seu irmão. A grande vencedora do Fama Show tem 23 anos de idade e vem de uma família humilde, por isso, os poucos anos de vida nunca lhe foram fáceis.

“Quando fui viver com o meu irmão em Inhambane, a ideia era que eu tivesse melhores oportunidades de estudos, mas um tempo depois apareceu um amigo do meu irmão para se hospedar na mesma casa e este aproveitou-se da ausência dos outros para me assediar”, contou Marta Vilanculos, a grande vencedora do Fama Show. Depois deste episódio, Marta Vilanculos foi forçada a regressar à Beira em 2012 e a ter um outro conceito sobre os homens. “Eu já não queria saber de homens. Metiam-me medo. Achava que todos os homens se aproximavam de mim para me magoar, mas tudo mudou quando conheci Jesus. Ele amoleceu o meu coração e tudo voltou a ficar normal”, narrou Marta Vilanculos. E foi o mesmo Jesus que a tirou da sua paixão de criança, que era a dança, para a música. “Sempre gostei de dançar. Eu dançava num centro cultural algures na Beira”, revelou o seu apreço pela dança, acrescentando que “Jesus foi quem me revelou o dom pela música e que, através dela (a música), podia louvar a Deus. No início, eu cantava as músicas de Bruna Carla e, pouco a pouco, vou apreciando a música e nunca mais parei de cantar”.

Apreciou, encarnou e, a partir daí, a sua vida resumia-se à música. “Música é vida para mim. Eu não levo a música como hobby. Para mim, é viver de música que eu quero. Estou na faculdade e a fazer ciências da comunicação, mas a música é que é a minha vida”, assumiu Marta Vilanculos.

Mas, para viver da música, tinha de começar de algum lugar… e o Fama Show era a oportunidade ideal para si. Marta Vilanculos teve de abdicar de muita coisa para estar no Reality Show. Deixou a sua filha de oito meses que nasceu prematura.

“Foi muito difícil tomar a decisão de deixar aquela semente que ainda está a brotar para trás. Então, eu tive que tomar esta decisão. Não foi tão fácil, mas eu tinha que fazer isso, porque eu queria. Eu fiquei a pensar: muitos dos artistas partiram de algum concurso. Se não for Fama Show, Desafio Total, Turma Tudo Bom, de um sítio qualquer.

Que história iria contar?

Então, apareceu esta oportunidade e eu não hesitei”, relatou a vencedora do Fama Show.

Estava no Fama Show, mas o seu coração estava na recém-nascida que deixara em casa. “Houve galas em que eu chorava por pensar na minha filha. Houve uma altura em que ela teve um acidente. Queimou uma parte da perna com água quente e eu pensei em desistir do Fama Show, mas os meus colegas me motivaram a não desistir. Até chegaram a chamar-me de maluca. Ouvi seus conselhos e continuei”, recordou Marta Vilanculos.

E esta não foi a única coisa difícil.

Participar do concurso num contexto de pandemia constituiu, também, um grande entrave para Marta. “Quando saí da Beira, não levei nada. Só tinha levado roupa para casting, mas para o show, não levei porque pensei que nos sobraria tempo para voltar para casa. Chegados aqui, a produção do Fama Show disse que não iria custear as despesas e estava lá escrito. Nós é que não prestamos atenção, mas, depois, falei com um amiga para me ajudar com roupas”, revelou a estrela do Fama Show.

A estrela do Fama Show até teve ajuda com roupa para a primeira gala, mas aconteceu um episódio engraçado e interessante. “Eu fui buscar roupas no estilista e perdi o carro que ia à KaTembe. Isso porque, eu pedi a alguém para indicar como podia chegar no Anjo Voador, mas fui aparecer no Xipamanine. Por lá, de tanto desespero, rasguei o meu vestido e acabei o dinheiro de transporte que usaria para chegar à KaTembe. Chorei de tanto desespero”, contou Marta Vilanculos, hoje, às gargalhadas. Ainda neste episódio, ela acrescenta que teve de pedir dinheiro de transporte a outro concorrente (Afonso Júnior), que lhe mandou por plataformas electrónicas e “quando cheguei à KaTembe, a Shelcia Machaieie foi quem me deu um vestido para eu poder usar e actuar na primeira. Por isso, digo que eles são minha família. Subi ao palco pensando na minha princesa e, por isso, actuei e brilhei muito”.



E brilhou mesmo!

Marta Vilanculos foi uma das concorrentes que se manteve constante pela positiva desde a primeira gala e depois das suas actuações, os outros concorrentes aplaudiam-na.

As pessoas viram maravilhas no canto da Marta Vilanculos, votaram e tornaram-na na grande vencedora do Fama Show. Até hoje, custa acreditar. “Ainda não é fácil digerir. Todos os dias são mensagens de pessoas e eu não acredito que sou a vencedora da sétima edição do Fama Show e primeira classificada. Eu dedico esse prémio à minha filha e ao meu esposo”, disse Marta Vilanculos, num tom de entusiasmo.

E o esposo já espera, ansiosamente, pela chegada da sua amada e vencedora do maior reality show do país. “Estamos à espera de ti. Tu és uma mulher guerreira, madura, respeitosa, com carácter inquestionável. Eu amo-te muito. Tua filha ama-te muito também. Estamos à tua espera”, teceu elogios Adamo Costa, esposo da Marta Vilanculos. Estão à espera, não só o esposo da grande vencedora da sétima edição do Fama Show, como também os munícipes da Beira, tal como o fizeram em 2006, quando o prémio do concurso foi à mesma cidade, pelas mãos de Calisto Ferreira. Naquele ano, os beirenses lotaram as ruas para receber o seu filho e, este ano, certamente, não haverá muito público por conta da pandemia da COVID-19, mas o amor, o carinho e admiração dos munícipes da Beira, certamente serão os mesmos.

 

 


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Resurge

Apesar do contexto de tamanha insegurança e instabilidade, a arte segue demonstrando sua capacidade de trazer renovação para aquele que a ela recorrem.A arte é singular, assim como seus processos. Durante a pandemia, portanto, é de se esperar que o fazer artístico apresente as diferentes subjectividades daqueles que os produzem apresentando maiores ou menores mudanças, facilidades e dificuldades. O fechamento de teatros e espaços culturais afectou o ritmo das produções e suspendeu o andamento de projectos culturais na nossa sociedade, como explica o escritor e poeta Santos.

“Ora viva, antes de tudo permita-me saudar a todos leitores e dizer que no princípio não foi fácil pois pouco sabíamos em torno desta doença”. Para o escritor e poeta Santos, neste tempo tão de difícil os artistas têm muitas privações e inseguranças de tal forma que em algum estágio tiveram que se readaptar de modo a continuar.

“Por exemplo no meu ramo (literatura) fomos desafiados a inovar pois as feiras e saraus deixaram de ter lugar e isso foi crucial para a expansão do pensamento. A arte em tempos de Covid sofreu inovações”

Com as novas medidas com vista combater a pandemia do novo vírus, viram-se obrigados a ficar em casa e isso numa primeira fase abriu uma perigosa janela de depressão e vários outros sentimentos, a arte resurge mais uma vez como um balão de oxigénio para informar, entreter e confortar a sociedade.

“Todas formas de arte tiveram e ainda tem um alto contributo para o bem-estar e o combate à pandemia”.

A temática e a abordagem actual têm um importante papel para o combate à pandemia do Covid-19, a arte sendo ela a forma mais prática e abrangente, tem-se mostrado mais eficaz para tal papel.

“Eu, assim como vários outros colegas da arte temos criados programas de sensibilização usando a poesia e vários outros diferentes géneros. Através das redes sociais e várias outras ferramentas electrónicas foi e está sendo possível obter bons resultados”.

Bem, não se pode negar que fora as inovações a pandemia veio atrasar e prejudicar a classe artística, por exemplo com o cancelamento indeterminado das celebrações colectivas, feiras, escolas, empresas, espectáculos, aeroportos e assim como interdições e mais.A arte na sua totalidade tinha entrado numa fase delicada e alguns fazedores tiveram enormes prejuízos. O consumo virtual do produto artístico cresceu posteriormente mas para aqueles que não souberam se readaptar nesta nova realidade não tiveram a mesma sorte, sublinha o artista. Actualmente é mais fácil estar presente, temos notado um crescente movimento artístico e muitos canais de divulgação.

“Com a literatura não é diferente, cresceram os canais e as plataformas de leitura. Os saraus embora virtuais, tem actualmente um alcance indefinido pois tem maior abertura a aceitação”.

“Não se pode negar que estamos numa bela fase de aprendizagem e emancipação. Estamos reaprendendo a sobrevive com esta nova realidade”.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

“Wirapangue”

Há quem diga que o tratamento que nos é dispensado na infância influencia a nossa personalidade e atitudes quando adultos. Rahima é a prova disso. Foi sempre mimada pelo pai, e hoje replica o gesto para com…a música. Nascida na cidade de Maputo, Rahima Ezequiel Munjaga entra no mundo da música no longíquo ano de 1999. Foi à beira do “fim do mundo” que começou a dar vida a uma paixão que sempre existiu no seu íntimo, influenciada por Dianne Reeves e Celine Dion, ambas cantoras norte-americanas, e pela mítica banda moçambicana RM. Em tão pouco tempo, já actuava além-fronteiras, o que, de certa forma, certifica a sua imensa qualidade. Por exemplo, no ano de 2001, fez algumas digressões pela Europa, tendo participado em alguns festivais de música. Igualmente, passou parte da sua vida na vizinha África do Sul, fazendo música e sempre exaltando o amor, que é a sua marca. “Falo muito de amor. À semelhança do meu pai, sou uma romântica nata, mas o estilo é afro jazz”, revela a cantora, que foi muito influenciada pelo pai, igualmente um “romântico nato” e dono de uma grande compilação de discos de vinil com que se deliciava em casa.

“É bom sair da rotina” Apesar de ter o afro jazz como “BI” musical, Rahima gosta de navegar em outros mares e fazer troca de experiência com outros músicos. É uma forma de “sair da rotina”, que é boa para experimentar “outras energias”. Essas experiências ajudam-na a ser uma cantora cada vez mais completa, o que ficou demonstrado no álbum “Wirapangue”. “É um título que amo muito. Esse nome também será o título do meu futuro projecto em outras artes, cada letra desta palavra tem um significado para mim”, conta Rahima, para quem as misturas de ritmos diluem a identidade dos artistas e projectam a música para outros mundos. “Assistimos e ouvimos, hoje em dia, vários ritmos musicais misturados com ritmos de outros países, e, em algum momento, intitulamos essa mesma música ‘produto nacional’, o que não está errado, pois aí já entra de acordo com a minha resposta: ‘música não tem fronteiras”. “Tenho outras habilidades” Os músicos moçambicanos estão há mais de um ano a fazer uma espécie de travessia no deserto, dado que os espectáculos, que são a principal fonte de receitas, estão interditos. Rahima assume estar afectada, tal como “todos os músicos”, mas não sucumbe, graças a outras valências que possui.

“Tenho outras habilidades que me ajudam a contornar a situação da pandemia”, vincou a fonte. De resto, antes da pandemia já era difícil a vida dos músicos em Moçambique, por conta das deficiências que caracterizam o ambiente musical. Seja como for, Rahima prefere ver o lado positivo, que tem que ver com o facto de hoje a situação estar muito melhor. “Agradeço a Deus pelos momentos que Moçambique está a passar culturalmente. Nós começámos em momentos bem difíceis, em que para se assistir a um festival, fazer-se um concerto, ter empresas a injectar na cultura, em artistas e por aí em diante era difícil. Só víamos isso nos Estados Unidos da América, através da Rahima televisão. Hoje tudo mudou”, referiu. Para já, o principal desafio que Rahima aponta tem que ver com a capitalização da música, através de pagamento de direitos autorais, “algo que ainda é muito desconhecido no nosso meio, mas esta ferramenta fez com que grandes países estivessem culturalmente industrializados e que a música assim como outras manifestações culturais humanas estivessem no nível em que estão”.

0,1,2…4…1 …. Pecados fatais

 Pecado 18: Ridicularização do Hip-Hop

Preferi criar um dos pecados para falar do Hip- -Hop, um ritmo que tanto aprecio e que, para mim, é uma luz para perceber o rumo das sociedades. O ponto é o seguinte: a sociedade foi estruturada de tal forma que nos faz perceber o hip-hop (rap) como um ritmo de mendigos, criminosos ou delinquentes. Mas engana-se quem assim pensa, pois, neste grupo/estilo musical, muitas são as verdades ou realidades cantadas que, se escutadas, poderiam mudar o rumo das coisas para o melhor. O rap é, de alguma forma, um ritmo de manifestação ou repúdio a determinados assuntos (pacificamente), e ele leva consigo uma estrutura de MCs que vivem a dor da sociedade e interpretam isso em suas letras. Há muitos estudiosos que estão neste estilo musical, alguns são os chamados ghost writers, outros são os que escrevem e cantam pessoalmente. Não se pode ignorar o facto de existirem os rapazes de swag, que só falam coisas e não ajudam em nada o movimento rap, porque mais insultam do que trazem mensagem. Daí que digo que se precisamos que o rap/hip-hop seja respeitado, é importante que também se repense no que se canta, em como se canta, sob o risco de penalizar gente que dia e noite elabora logicamente as suas músicas para depois ver-se marginalizado por causa de muitos que acreditam que tatuar-se é o código alfa de um verdadeiro rapper.

Pecado 19: Ridicularizar um fã versus uma sociedade que não sabe aplaudir.

 É incrível às vezes ver a forma como as pessoas não querem mostrar que são fãs de seus músicos predilectos. Agem de tal forma que até engolem a lágrima de emoção que quer-se libertar na hora do show ou quando o vêem caminhar. Percebo que estamos numa sociedade em que, por vezes, se tem medo de exprimir os sentimentos. Ou melhor, as pessoas fazem-se de difíceis ao ponto de esconderem que gostam tanto de um determinado artista. Isso pode fazer de nós uma sociedade privada no secretismo do sentimento, e nalgum momento, agoniada, porque quando um sentimento é aprisionado é como se um pouco de nós fosse impedido de se libertar (olhe que não estou a falar de coisas de amor). O ponto deste pecado é que não existe, necessariamente, um músico sem um fã. Ou seja, há uma relação directa entre estes dois, e por incrível que pareça, o músico precisa mais do fã do que o fã precisa de si. Daí a necessidade de saber gerir a ansiedade de seus fãs e saber dar resposta quando estes fazem perguntas e inquietam-se sobre o seu paradeiro.

Pecado 20: Um governo que não reconhece seus artistas

Espero que, ao falar deste pecado, não seja percebido como um político falando, até porque não tenho tais traços. Trago este pecado no sentido de problematizar o papel do estado na promoção da cultura/música moçambicana. É preciso que se criem essencialmente ligações fortes entre um estado e os artistas. Poderíamos, por exemplo, pensar numa possibilidade de o Presidente da República convidar artistas para cantarem e estarem junto de si numa conversa num fim-de- -semana na presidência. Caso isto acontecesse, não querendo aqui citar os métodos para escolher os artistas que lá estariam, abririam uma época em que olha para a presidência como, também, um local onde se encontra o povo, um local onde debatem- -se ideias, ainda que fosse informalmente. Enfim, não cabe a mim decidir isto. Talvez o importante a discutir aqui seja como o Ministério da Cultura gerencia a vida dos músicos e faz destes um grupo “privilegiado” ou que mereça alguma atenção. O Ministério tem que ser uma caixa de reclamação que recebe problemas dos músicos e, aos mesmo tempo, os resolver, se estiverem ao seu alcance.

Pecado 21: Privar o pensamento só na cultura local pode ser uma fatalidade Moçambique não existe, necessariamente, sem os outros países do mundo.

É importante perceber que cantar a sua história não significa ocultar a história do outro. Daí que faz-me pensar que precisa- -se, às vezes, de se pensar fora da caixa e não ter medo de cantar o outro mundo, não ter-se medo de fazer o samba enquanto se é moçambicano. Isso não tira nenhuma originalidade e não é crime nenhum, pelo contrário, até mostra o quanto podes estar a par dos acontecimentos e que conheces a cultura de outros povos. Deve-se pensar porquê alguns artistas se notam muitos nalguns países. Alguns, é porque tem um objectivo nas suas carreiras e escrevem o “Plano de carreira” no sentido de identificar o seu público-alvo. É importante lembrar que um músico é comparado a um empresário que quer abrir um jornal. Não pode querer criar um jornal só tendo dinheiro para a primeira impressão, sem saber de onde vai surgir o dinheiro para as outras edições. O que estou a atentar dizer é que enquanto se pensa como produzir as músicas, é também importante saber como dar continuidade aos seus trabalhos.  

 

Pecado 22: Ter lucros na música/música como empresa

 As pessoas pensam que a música é só para cantar-se em casamentos, fazer a vovozinha sem dentes sorrir e esquecer-se da velhice. Pelo contrário, a música é sim uma indústria, ou pelo menos deveria ser. As pessoas devem viver por aquilo que elas acreditam ou que as faz completas. Estamos perante uma realidade em que fazer música não é, provavelmente, uma forma de vida, porque não garante lucros e nem garante o sustento das famílias, por isso muitos entram e saem da carreira, ainda que gostem de fazer música. Assim como os outros profissionais têm/deveriam ter carteiras profissionais, os músicos também devem ter, porque são uma estrutura organizada que garante fundos, dinheiro que ainda serve ao próprio estado, ou melhor, é importante que se discuta quem é ou não músico, quais são os critérios para sê-lo, ou ainda que qualidades exigidas para que se debata ao mesmo tempo a possibilidade de torná-la uma empresa propriamente dita. Nós é que ainda não tenhamos a música como forma de rendimento, mas os outros países, até mesmo Angola que tanto “amamos”, têm cantores/ músicos que vivem essencialmente da música e ficam ricos por ela (acredito que aqui também possam existir/existem).

 



Sérgio dos Céus Nelson

NB: Há que se pensar na formação dos músicos, de forma a perceber como se comportam ou escrevem suas letras.