sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Artistas, maiores embaixadores

Resultado de imagem para Ivan MazuzeIvan Mazuze, saxofonista moçambicana a viver na Noruega, não tem dúvidas: os escritores, pintores e atletas são os maiores e principais embaixadores culturais do país, porque, com o seu poder da representatividade, conseguem enaltecer a imagem de Moçambique. Nesta entrevista, Mazuze sintetiza a essência dos seus três álbuns (Ubuntu, Ndzunti, Maganda) e dos seus universos interiores, sem disfarçar a vontade de conquistar o mundo, por via da música.
É um artista do jazz, que faz do saxofone sua língua. Como é exprimir-se por via deste instrumento?
Para mim, o saxofone é a extensão do meu corpo para poder exprimir os meus sentimentos.
Quem lhe escuta, por exemplo, no seu último CD, Ubuntu (2015), sabe que canta a sua terra em “Inta Mutlhangela”. É uma forma de se sentir em casa?
Definitivamente, não só, mas também é uma forma de contar a minha história, origem e apresentar-me como africano e moçambicano.
Compõe a pensar na gente do seu país ou apenas preocupa-lhe ser um cidadão do mundo?
Componho baseando-me nas minhas vivências, lugares em que passo, literatura, acontecimentos históricos, tradição, pessoas influentes na minha vida ou experiência artística.
Como músico, tem preocupações de desafiar o seu público a experimentar uma dor fictícia, quando, por exemplo, toca “My Two Northern Lights” e “Talking to Myself” (Ubuntu), músicas taciturnas e melancólicas?
Sim, adoro melancolia como uma forma alternativa de expressão musical.
Ao mesmo tempo que o CD nos desafia a uma meditação, também consegue nos pôr num modo eufórico. São os casos de “Hamba Kahle” e “Dancing with Malala”. As suas músicas traduzem o estado de espírito em que se encontra a compor?
Sim, como africano tenho este lado eufórico com muita felicidade, dançante e expressivo. Acho natural para mim.
Ubuntué um CD com 53 minutos. O que mais lhe interessou transmitir nesse tempo?
Interessou-me transmitir uma mensagem do modernismo urbano africano.
Todos os seus álbuns têm uma música que os intitula. Há uma explicação?
Cada uma das musicas que intitula o álbum mostra uma assinatura performativa e conceptual de cada álbum em geral.
Às vezes lhe escuto e fico com a sensação de que as suas músicas deixam de exprimir muita coisa. Por exemplo, “Celina” e “Mosambik” (Ndzunti, 2012) ou “Felicidade” (Maganda, 2009). O que fica por dizer, depois da música ficar pronta?
Pois… de certa forma, alguns elementos inspiram-me a compor um determinado ritmo ou som. Por exemplo, a música “Celina”, a entoação e ritmo foram inspiradas pela minha querida avó, uma pessoa influente na minha vida. “Mosambik” é alegria natural do moçambicano em geral, a nossa forma de dançar. “Felicidade” é inspirada por uma das pessoas mais influentes da minha vida: a minha mama. Quando criança, dançava muito com a minha própria mãe e esta vivência influenciou-me a compor.
“Pé descalço” lembra-me um título de Casimiro Nhussi, “Sem sapato”. É uma condição de vida em causa?
Uma condição de humildade perante os desfavorecidos.
O que lhe dá tanto gozo quando toca o universo que tem dentro de si?
Finalmente consigo exprimir-me, exercendo a actividade pela qual tenho a maior paixão na vida.
No seu primeiro álbum, Maganda, encontramos um tema curioso: “Piece of Peace”. É a demonstração de um desejo?
Realmente, procurando um pedaço de paz pelo qual possa trazer harmonia e tolerância no nosso universo.
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Se colocasse a questão nos seguinte termos: tocar é uma forma de voltar a casa ou de conquistar o mundo, o que diria?
De conquistar o mundo, pois o mundo das artes performativas deseja, de certa forma, uma contribuição única de novas tradições.
Há dois temas de Maganda que me despertam muito interesse: “Inkomo tatana” e “Shangana tsonga”. Quais são as estórias destas músicas?
“Inkomo Tatana” foi escrito e dedicado ao meu pai como guia/embaixador do fundamento da minha carreira académica, tornando-se, assim, um visionário no meu ponto de vista. “Shangana Tsonga” é dedicado ao meu grupo étnico, changanas, uma mistura dos povos Nguni, sul-africanos e locais Tsongas, do Sul de Moçambique.
Quais são as áreas de estudo que lhe interessam na sua área académica?
Música tradicional na religião Africana, especificamente em Moçambique e África do Sul.
Que perde e ganha por estar a fazer música fora do seu país?
Perco o diário consumo da nossa linda música tradicional. Ganho uma enorme experiência e conhecimento sobre a indústria internacional e acesso a diversas e interessantes tradições pelo mundo fora.
Moçambique tem grandes nomes do afro jazz e de outros estilos no estrangeiro. Acha que conseguem comunicar?
Sim, com certeza. Nos meus vários projectos e bandas já contribuíram alguns influentes músicos moçambicanos, como Childo Tomás, Deodato Siquir, Isildo Novela e mais.
E essa representação no estrangeiro consegue enaltecer a imagem do país?
Com certeza! Os maiores e principais embaixadores culturais do pais são os artistas, escritores, pintores e atletas.
O que lhe falta tocar sobre o seu país?
Muito, pois o nosso país é rico e muito diversificado culturalmente e linguisticamente, que há tanto que explorar ainda.

Perfil

Resultado de imagem para Ivan MazuzeIvan Mazuze é saxofonista, compositor e membro do Conselho para Representante Oficial de Música e Dança Folclórico Internacional e Nacional na Noruega.  Igualmente, é líder artístico para o Førdefestivalen, Festival de música tradicional e músicas do mundo; Representante e Embaixador Cultural para Noruega na Diáspora do Género World Jazz através das Organizações Music Norway, Arts Council Norway e Forum de Jazz da Noruega.



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