sexta-feira, 7 de maio de 2021

“Okhupali”

The Real 2F nome artístico de Dom Lopes Jaime, jo-vem rapper moçambicano, natural da Cidade de Nampula, de 27 anos de idade, actualmente a residir na Cidade de Chimoio, é técnico Agro-pecuário, praticante do Hip-Hop.

No seu entender o rap é uma fusão de ritmo arte e poesia na qual o mesmo sente a vontade expressar seus senti-mentos, e comunicar a sociedade, através da poesia, embora margi-nalizado por alguns é o melhor estilo musical para músicas de intervenção social e educação.Na sua concepção, o género Hip-hop tem importância de in-formar, principalmente o que a media não reporta. Na sua forma de ver, na contemporaneidade, os jovens não têm amor pela leitura de livros, mas escutam música.“No nosso rap consciente trazemos também abordagens científicas, Literárias e culturais para esse público-alvo”, afirma. The Real 2F, apaixona-se pela arte do Hip-Hop muito cedo, com os seus 5 anitos, já interpre-tava várias músicas, enquanto adolescente escutava músicas do grupo musical moçambicano SSP, por sofrer certas influências dos seus irmãos mais velhos. “Quando criança escutava músicas dos SSP por influência dos irmãos mais velhos que to-cavam muito em casa, e passei a interpretar as músicas do Álbum Alfa, tinha capacidade de decorar e cantar as músicas facilmente sendo uma criança de 5 anos cantando cada música do álbum era muito impressionante para os adultos, ganhava algumas moedas pra interpretar músicas dos SSP, e sem saber criava uma habilidade de repar dentro de mim, mas só em 2004 quando ouvi Denny OG pela primeira vez senti, algo dife-rente que fazia meu estilo e co-mecei a compor minhas próprias músicas com 10 anos de idade até então”, sublinha o artista. 

A 16 de Dezembro de 2016, The Real 2Flançou uma EP intitu-lada “Tio de Yana e Kenisha” na casa Provincial de cultura Nampula, esta EP foi feita em homena-gem às suas queridas sobrinhas. O artista conta ao nosso jornal que nunca participou de nenhum concurso nacional, internacional só festivais (Barras Maning Arre-tadas e Terra do Rap) no Brasil.O artista conta que tem um álbum a caminho, sendo que este ainda se encontra na fase de gravação e alguns arranjos, denominado “Okhupali” ter-mo da língua Emacua que tra-duzido quer dizer “Acreditar”. The Real 2F, conta que a maior dificuldade encontrada é o preconceito que o estilo hip Hop e os fazedores passam. “Por fazer o estilo já fui cha-mado de marginal, bandido etc, actualmente esse cenário não é muito frequente, só tenho regis-tado a falta de oportunidade para os fazedores do estilo Hip-Hop, os empresários não investem muito em rappers, (Repistas)”. Para enfrentar as adversi-dades ao longo deste percurso o artista criou uma pequena empresa de prestações de ser-viços artísticos e Literários (Okhupali ServicesLda) que fazem parte muitos jovens ta-lentosos que precisam de opor-tunidade para brilhar, a ideia é criar uma indústria musical, para tal estamos a trabalhar, embora com dificuldades de-vido a pandemia mas temos fé que um dia chegaremos lá.

terça-feira, 4 de maio de 2021

“Os meus tempos de rádio”

Assinalam-se os primeiros seis meses da epopeica páscoa de João Baptista de Sousa; o nosso João de Sousa. O lançamento, mais virtual do que físico, do seu livro “Os meus tempos de rádio”, crônicas e outros escritos, serviu de mote para aglutinar seleccionados amigos, familiares e colegas; admiradores. Um memorial digno e à altura de quem vive nas alturas, próximo das estrelas, cuidando dos seus, vigiando as aporias de um país que se constrói com remendos e roturas, seguindo as mudanças políticas e sociais, culturais, as democracias e, sobretudo, as transformações desportivas.

Estaríamos, em absoluto, equivocados se considerássemos que a sua voz se apagou, para sempre, com o seu desligamento físico dos nossos olhos. Essa voz, como o fio da memória, permanecerá viva e acutilante, remexendo nossas consciências, apelando ao rigor e excelência, revisitando o palco da solidariedade, da união e fraternidade entre os irmãos e patriotas e, sobretudo, fazendo com que as ondas hertzianas sirvam para educar uma nação e um povo.

Não sou contemporâneo, porém, convivi, intensamente, com os seus ensinamentos, com sua voz, cidadania e seu nacionalismo. Sim, ele era esse homem de múltiplas capacidades e revelações. Gostaríamos de ter lançado o seu livro na Universidade Pedagógica de Maputo. Era esse seu desejo. Nós indagamos sobre as razões, mas, o mais sensato seria pensar que ele entendia que a educação era a primeira e a última batalha para edificar esta sociedade e país. Ele acreditava na educação de forma devota.

Todos nós, salvaguardadas as devidas proporções, tivemos, em João de Sousa, um ídolo, um farol, um companheiro  e um irmão mais velho. Ele pareceu ser, sempre, essa chama que iluminava todos os caminhos; a voz que alimentou gerações. Revisitar, hoje, estes contos dos milhares de contos que foram a sua vida e seus escritos, tem um simbolismo que vai muito para além de lançamento de seu livro, deveria ser encarado como a reconfiguração dessa imagem que desaparece, da voz que perdurará em diferentes plataformas, enfim, da admiração que ele granjeou junto de todos quanto o conheceram.

Em 2005, o Ministério do Turismo organizou um concurso infanto-juvenil sobre os parques nacionais. Os jovens concorreram, apresentando redacções e fotografias. Claúdio, filho primogénito de João de Sousa, participou e foi um dos seleccionados para visitar o Kruger Park, como parte da premiação. João de Sousa, pai babado, acompanhou este concurso e revelou seus dotes de ambientalista, ecologista feito pela vida e desnudou todo o amor que o ligava a natureza, mesmo que nunca o tivéssemos conhecido nesses pergaminhos.

Hoje, me recordo daqueles diálogos sobre Quiterajo e Mucojo, lá em Mocímboa da Praia. Aos alunos de duas escolas, foi solicitado que fotografassem os animais que mais prejudicavam, e os que mais ajudavam a comunidade. Eles foram unânimes. Elefante era o que mais ajudava. Foi um aprendizado para todos nós e, igualmente, uma rotura ao discurso do conflito homem-animal.

Mais logo, regressarei às histórias de música e vou escutar Steve Wonder, Fany Mpfumo, Hortêncio Langa, João Cabaço, Zeca Alage dos Ghorwane e Pedro Langa, músicos de sua eleição, dos quais fez, tantas vezes, referência. Os céus ganharam uma voz de ouro e ele deve estar encantando o paraíso com seu talento. João de Sousa deixa ficar um abraço de saudade à minha querida amiga e irmã Afra Ndeve e que o espírito dela nos empolgue para outras vitórias de que tanto carecemos. (Dr. Jorge Ferrão)