sexta-feira, 20 de julho de 2018

Espaços!

Imagem relacionadaO Deal – Espaço Criativo é, desde terça-feira, um centro de discussão sobre o fenómeno literatura no país. Ontem, desde o final de tarde até à noite, escritores, ensaístas e leitores juntaram-se para discutir sobre “O fim da crítica literária em Moçambique”. Para o efeito, estiveram, como convidados, no painel, dois oradores: Gilberto Matusse e Rogério Manjate, que, em diversas ocasiões, concordaram em relação aos factores decisivos na escassez da crítica. De acordo com os dois autores, não se deve falar do fim da crítica literária, mas da ausência, o que resulta da inexistência de um espaço especificamente criado com intuito de divulgar literatura. Assim, a divulgação de ensaios sobre obras de autores nacionais é algo esporádico, sem continuidade.
Partilhando a experiência dos tempos em que coordenou a Gazeta de Artes e Letras da revista Tempo, Gilberto Matusse afirmou que, em grande medida, naquele órgão a crítica e a divulgação da literatura em geral vincou porque os leitores sabiam da existência de um espaço reservado à escrita, inclusive, na vertente reflexão. Hoje, na percepção do Professor de Literatura da Universidade Eduardo Mondlane, isso escasseia, pois nunca se sabe quando os jornais vão publicar ensaios ou estudos sobre livros.
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Nesta escassez de textos críticos, Rogério Manjante protestou contra os casos em que os académicos, ao publicarem nos jornais, apostam em reflexões muitas extensas, exaustivas e com uma linguagem universitária. Na óptica do poeta, escritor e actor, é preciso que os jornais alertem os críticos para adaptar a sua linguagem a do cidadão, ao invés de se deixarem levar pela pretensão de dialogarem entre si. Deste modo, entende Manjate, pode-se evitar a publicação de recepções em dois, três, quatro números de um diário. Sobre esta recomendação, o jornalista Francisco Manjate posicionou-se contra o artista, pois, segundo percebe, o que mais conta na publicação de um texto crítico num impresso não deve ser o número de caracteres, e sim a qualidade do conteúdo. E esse sempre foi o seu critério na divulgação da arte literária nacional, carente de espaços para a publicação de recepções por implicações financeiras a advirem da insustentabilidade, por exemplo, de suplementos culturais, quer porque os autores dos textos precisam de remuneração como incentivo quer porque os jornais ou as revistas não contam com nenhum apoio para tornar o pensamento sobre literatura algo sustentável ao partilhar-lhe.
Resultado de imagem para O fim da crítica literária em MoçambiquePara Gilberto Matusse, aí reside parte do problema que afecta a crítica. Se antes os leitores publicavam o resultado das suas leituras preocupados com o prestígio que daí advinha, actualmente, as coisas mudaram. Nesta perspectiva, sugere o professor de Literatura, um dos passos a dar no sentido de reverter a escassez de ensaios ou reflexões é apostar na consolidação do espaço escolar. “Muitas vezes temos acompanhando a inauguração ou oferta de tantas salas de aulas, mas esquecemos que só isso não basta. Temos que nos preocupar com a escola e com tudo o que a instituição representa. Não devemos deixar tudo o resto de lado”.
À semelhança de Gilberto Matusse, Rogério Manjate acredita que a escassez da crítica literária nos jornais não é proporcional à da académica. Aliás, ambos defendem que no contexto universitário há muita produção. No entanto, repara Manjate: “A crítica académica não chega às pessoas porque as próprias universidades não têm mecanismos que garantam que isso aconteça. Portanto, falta uma crítica madura e constante porque, hoje em dia, é muito mais fácil criar uma página e divulgar a literatura”.
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No primeiro dia do Colóquio de Literatura Resiliência, Melita Matsinhe, Sónia Sultuane e Sara Jona debateram sobre “A arte no feminino”. Aí, as autoras protestaram contra todas e quaisquer tendências de se confinar o poder criativo das mulheres a alguma coisa chamada “feminino”. Matsinhe, Sultuane e Jona consideram que em literatura apenas há autores e a preocupação apenas deve ser qualidade textual. E essa qualidade existe nos homens na mesma simetria que nas mulheres.
O Colóquio de Literatura Resiliência é promovido pelo Deal – Espaço Criativo, com a pretensão de aproximar autores, leitores e, assim, pensar-se nas melhores saídas para o acesso ao livro no país ser uma realidade. O evento termina hoje – dia previsto para o lançamento do livro Eles eram muitos cavalos, do escritor brasileiro Luiz Ruffato. O livro terá apresentação de Mia Couto –,  com um recital de poesia e música a partir dos versos da colecção “Os filhos do vento”, da editora Cavalo do Mar.

Óscares

Pedro Pimenta lamenta a falta de reconhecimentos dos fazedores da sétima arte no país. Para o cineasta nomeado para Academia dos Óscares, nos EUA, Moçambique precisa de políticas que fomentem a produção do cinema. 

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Mesmo com imensos obstáculos, a qualidade do cinema moçambicano continua a ser reconhecida a nível internacional. Se, por um lado, produtoras estrangeiras investem nos actores nacionais e os filmes vencem prémios importantes, por outro, cineastas são distinguidos. Este é o caso de Pedro Pimenta, nomeado recentemente para membro da Academia que atribui os Óscares nos Estados Unidos de América. Esta nomeação, resultado do grande contributo que o artista exerceu para o desenvolvimento do cinema moçambicano, e (in)directamente, do mundo, vai permitir-lhe exercer poder de voto em três categorias subordinadas ao Prémio de cinema, nomeadamente, melhor filme Estrangeiro, melhor animação e documentários. 
Assim, Pimenta terá acesso aos filmes nomeados para
Óscares, o que se enquadra na necessidade da Academia norte-americana garantir na premiação a maior diversidade atinente à produção cinematográfica. Para o cineasta moçambicano, esta distinção tem um significado muito particular: os santos da casa não fazem milagres. Este é um reconhecimento ao mais alto nível, do meu agrado, mas não deixa de ser estranho que o reconhecimento não seja da casa. Ainda não é da casa. Mas isto não é problema, continuamos a trabalhar como sempre fizemos e esperamos que esta será uma contribuição válida.
Há mais ou menos um mês, na sequência da estreia do filme Ruth, em Maputo, Josefina Massango, que, naquela produ
ção, desempenha o papel de mãe de Eusébio, também lamentou o facto de internamente não existir reconhecimento ao seu trabalho e dos seus colegas. A actriz chegou a dizer que, por isso, a sua obra é mais conhecida no estrangeiro do que a nível interno. Desta vez, quem se queixa do mesmo problema é Pedro Pimenta. E onde reside o problema do fenómeno que interfere na “decadência” da produção cinematográfica? Na falta de liderança esclarecida, porque, com liderança esclarecida pode-se identificar facilmente os valores e os esforços de várias pessoas que continuam a tornar o cinema nacional uma coisa reconhecida pelo mundo e respeitada. O não reconhecimento em casa é indício de uma falta de liderança esclarecida, lamentou o cineasta a ausência de políticas estimuladoras de um bom ambiente.Pedro Pimenta é um dos oito cineastas africanos nomeados para Academia que atribui os Óscares, o único dos PALOP e o primeiro moçambicano com direito a voto. A distinção acrescenta ao artista muito trabalho. Por exemplo, agora, já tem 13 filmes por ver, dos que serão distinguidos para o ano.
Imagem relacionadaNão obstante, uma das formas de ultrapassar os boicotes atinentes ao cinema moçambicano é, de acordo com Pedro Pimenta, reconhecer-se, apostar-se e divulgar-se filmes nacionais, pois, deste modo, é possível que as autoridades competentes se dêem conta da existência de um público ávido e interessado. Disso, tem esperança o cineasta, pode ser que se torne possível a delimitação de políticas de fomento de cinema. 
Questionado sobre qual é o ponto forte de Mo
çambique ao nível cinematográfico, Pimenta explicou que durante muito tempo foi o documentário. No entanto, nos últimos anos, tem sido a ficção, seja curta ou longa-metragem. E o cineasta especula que pode estar por detrás disso a complexidade da realidade socioeconómica e cultural que o país atravessa, que faz com o documentário seja um género difícil de apreender. “A ficção oferece ao criador mais liberdade, mais possibilidade de reinventar”. 
Portanto, embora a nova vaga de cineastas tenha mais oportunidades de produ
ção, com o desenvolvimento da tecnologia, enfrenta mais dificuldades do que antigamente, mesmo com cursos de cinema, algo que no passado não havia, frisou Pimenta.

WeQMatic


Xiquitsi participa do festival internacional de música clássicaAlunos do projecto Xiquitsi participam do Festival Internacional de Música da Câmara de Stellenbosch, na cidade de Cabo. Trata-se da primeira participação, desde 2004, do grupo no maior e mais importante festival de música clássica.A directora artística do projecto Xiquitsi, Kika Materula, diz que o apoio que o grupo recebe tem contribuído para consolidação das suas pretensões quanto à formação artística e social dos alunos.“É mais um investimento que acreditamos que vai ajudar no crescimento e consolidação da música clássica feita em Moçambique para formação de Orquestra no País”, disse Materula.O Festival Internacional de Música da Câmara de Stellenbosch(Stellenbosch Internacional Chamber Music Festival)  é uma iniciativa que investe na incorporação da música de câmara nas componentes prática e educativa, promovendo o surgimento de novos talentos e o amor pela música clássica.Os concertos podem ser acompanhados através de um link directo disponibilizado na página do facebook “Xiquitsi”.

Mais um disco vai chegar às bancas no país. Desta vez, a obra pertence ao humorista moçambicano Bruno Belchior, que se prepara para o lançar algo diferente, um álbum de música cómica, intitulado WeQMatic, que se enquadra no estilo Hip-Hop.A obra do humorista, cujas gravações foram iniciadas em 2017, ficou pronto este ano, nos estúdios da Tchaya Records. Para o efeito, contribuíram cinco produtores nacionais, nomeadamente, 7 Kruzes, Rawtas, Vanny Beats e Doofhes e Leitor, e internacionais: Bigg Makk, Evie, Ryan Little e Bounce Instrumentals.WeQMatic, disco de Bruno Belchior, é constituído por 14 músicas. Alguns títulos que o compõem são: "Tseke & Furious", "Mulher Moçambicana", "Homem Catana em Ressano", "Skit 1 (peidos em lugares errados) ", "Ser pai", "Party na Zona", "O meu carro", "Outro" e "Xipfukelana Swag".

Humorista Bruno Belchior lança CD de música cómicaPara este álbum, que conta com MC Donald como Produtor-Executivo, Belchior tem a colaboração dos seguintes artistas: Vannize, Niva Gordelass, Disaster, Ivan AP e Uncle Rap.
Belchior é um humorista que faz stand’up comedy desde 2010. Adicionalmente, faz caricaturas e vídeos cómicos que posta no YouTube e no Sapo. Trabalhou na televisão e na rádio e participou no programa Tropa dos Tuneza (Mundo FOX). Ano passado, começou a gravar músicas cómicas, retratando assuntos triviais de forma ridícula e exagerada. No início deste ano, lançou uma Mixtape "A CaminhoDoWeQMatiC", com seis músicas para a promoção do álbum WeQMatic.




sexta-feira, 6 de julho de 2018

EparaKa


Sonhou e acreditou no seu potencial. Assim, depois de participar no programa Super Tardes da Stv, concentrou-se na ideia de lançar um álbum: Eparaka, no qual o músico esmera-se em contar histórias do mundo. Chama-se Deltino Guerreiro. ….. 
A palavra sonho é uma das que melhor lhe caracteriza. Consegue explicar por quê?          
Resultado de imagem para eparakaAcho que essa palavra me caracteriza como deveria caracterizar a todo mundo. Sonho é uma palavra muito forte e é isso que me faz acordar e trabalhar todos os dias. O sonho comanda a vida. Quem já não sonha desistiu… então, repito, esta palavra deveria caracterizar a todos como algo chave para continuarmos a viver. 
A sua arte musical começa como um sonho, uma utopia ou como algo concreto?            
 Começa como utopia, porque, quando pequeno, não me imaginava músico, ainda que tivesse a música dentro de mim. Com o passar do tempo, o bicho começou a crescer e comecei a sentir que poderia viver com música. E aí começou o sonho.
Foi algo ousado?                                                                                                                             
Sim, foi. Mesmo porque a longo prazo parecia impossível concretizar o sonho de ser músico. Com muitas barreiras e pessoas contra, persisti em seguir a música. E olha que tudo começou com poemas que eu fazia com um amigo, depois inseri-me num grupo de Hip-Hop, em Nampula. Só mais tarde comecei a fazer outras coisas. E daí cresceu a certeza de que poderia vencer nesta arte.
O título do seu primeiro álbum, Eparaka, dá a ideia de que se considera um sujeito abençoado. Há uma razão?                                                                                                                     
Olha, eu saio de uma zona muito recôndita; eu caçava porcos do mato e passarinhos numa condição muito complicada. Na altura, quando vivia em Montepuez (Cabo Delgado), no bairro Nacate, de onde caminhava com os meus avôs para uma machamba distante, onde lhes ajudava a cultivar a terra, nunca tinha imaginado que chegaria a Nampula e muito menos a Maputo. Então, estou a sair de uma vila bem pobre, rodeado por pessoas também pobres. Chegar a Nampula e, depois, a Maputo, conseguir o pouco do sucesso que tenho… – já veio a CNN passar um dia inteiro comigo, entre tantos artistas consagrados… –; um menino de Montepuez, que vendia petróleo para conseguir o lanche, que ia à escola descalço, com plástico como mochila, agora, ter um CD, só pode ser uma bênção.
Eparaka é CD plural em termos linguísticos. Como acontece a decisão de cantar em línguas diferentes?
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Há uma coisa que eu não conseguia fazer em Nampula: cantar na minha língua materna. A decisão de começar a cantar em emakhuwa começou aqui em Maputo. Durante a produção de uma música, posso iniciar com o português e, depois, sentir que tenho de partir para o inglês. A música é que exige, mas sinto-me mais à vontade cantando em emakhuwa, mesmo porque há sentimentos que apenas consigo expressar na minha língua materna.
Numa das músicas do seu CD, “Sonho”, observa que todo o mundo quer ser rico. Vê nisso um problema?
Não, não vejo. Na verdade, a causa última das pessoas é a riqueza. O problema é cingirmo-nos apenas na riqueza financeira, e não espiritual. Nesta música retrato o sonho de toda a gente. 
Na música “Freedom”, um sujeito pergunta o que é riqueza. Esta é uma questão de fácil resposta?
Para mim, a liberdade é a maior riqueza, e vem de Deus.
Canta como quem se preocupa pelo estado emocional das pessoas. Como se explica?
É um compromisso investir na moral porque me preocupo com as pessoas. Infelizmente, poucos de nós nos preocupamos com isso. Escrevo letras sem me deixar levar pelo calor da emoção. E invisto muito na ideia de passar uma mensagem para os que me escutam.
Canta para quem lhe entende ou para quem deve entender-lhe?
Canto para quem entende de arte e de música.
E para quem entende de vida?
É isso.. também canto para essas pessoas, tentando conciliar o valor da letra com a qualidade da melodia.
A música é uma forma de partilhar histórias vividas por si e pelos seus?
É uma forma de narrar as histórias do mundo, o que observo diariamente.
Às vezes oiço o tema “Deixa esse aí” e ocorre-me que pretende ser um agente da moral para quem o ouve…
Sim, procuro ser sempre um exemplo de boa conduta. Por isso evito, nas minhas letras, o que denigre a mulher, a sociedade ou coisas de género. Procuro ser um espelho para os que me seguem, e não existe espaço para desequilíbrio entre o Deltino artista e cidadão.
O que traduz o facto de ter conseguido estrear-se em disco?
Resultado de imagem para eparakaTraduz muita paciência, perseverança e sacrifícios numa luta que começou em 2011, depois do concurso Super Tardes. Não me imagino músico sem ter passado do Super Tardes da Stv, que me deu legitimidade de merecer lançar um CD. O concurso abriu-me portas.
O que acha que lhe dá mais valor musical?
A maneira como canto e a voz. Acho que os temas nem tanto.
Resultado de imagem para eparaka Quanto custa lançar um CD em Moçambique para um autor jovem?
Para o estilo de música que faço é muito difícil. Para aquela que é feita a partir do computador é menos complicado. Eu preciso pagar o tempo de muitas pessoas para que o CD fique pronto. E tenho que gerir muitas pessoas.
Sinto que às vezes mete-se num diálogo em forma de monólogo. Exemplo disso é a música “Se eu te dissesse”. Quem idealiza quando tenta comunicar por via das suas letras?
Idealizo Deus e pessoas que querem expressar alguma coisa.
Eparaka tem 10 músicas e 42 minutos. A gravação deste disco correu como sonhou?
Correu mais do que eu esperava. E o álbum deu-me uma visibilidade que eu não esperava. Foi no Eparaka que me encontrei, graças a Deus, porque trabalhei com um produtor muito competente.