sexta-feira, 27 de setembro de 2019

d“Aquilo que o corpo já esqueceu”

A exposição intitulada “Aquilo o que o corpo já esqueceu” do escultor Luís Santos que será inaugurada no próximo dia 01 de Outubro no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), vem suscitar um debate que vem de longe, mas que ainda tem respostas ambíguas e controversas. Enquanto o artista procura expressar a sua personalidade desassossegada, a sua paixão por “coisas” e vai provocando um debate social, “fingindo” não ser de propósito o que os olhos vêem.
Fomos visitar o seu atelier para ver os trabalhos que vão à exposição, e, para lá da negação do conceptual, as obras levantam-nos questões sobre a própria arte, a sua funcionalidade, mas também sobre o mundo, como ele é tão “grande” como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade, mas que cabe na mão de um artista que já se revelou, mas que agora, reclama reconhecimento.Nenhum desses elementos aqui levantados são ideias concretas do artista, aliás, Luís Santos, não é um artista de afirmações concretas, insinua. As suas obras são uma consequência inevitável de um trabalho que foi planificado simplesmente para resolver os dilemas existenciais do artista inconformado, quebrar as paredes em que se guarda a rebeldia de um jovem criador, que não tem outro objectivo, senão ousar e demarcar-se entre vários artistas que se apresentam no nosso contexto.
De resto, Luís Santos, que é um apaixonado pelo desenho, vem mostrar-se como um detalhista fascinado por quebra-cabeças. Um homem que convive em pleno com o artista, numa relação em que os dois não se confundem, são produto da mesma natureza, a insatisfação pelo estado das coisas. Pelas obras que vem ao público – com a exposição no CCFM a ser um bom momento para essa convivência com a sua criação – espelha a imperfeição da humanidade, do universo, como se o mundo fosse pequeno, que cabe nas suas mãos, mas sem deixar de ser essa universo surpreendente.Uma exposição que conta com a curadoria de Sara Carneiro, que vive de perto o dia-a-dia do criador, como se completasse a sua obra. E por isso difícil de não ouvi-la a comentar sobre a obra do artista.
“O Luís tem a necessidade de pegar nas coisas, talhar, acertar parafusos e essas coisas todas”, um trabalho altamente manual, portanto.
Há quem diga que as mãos são como os olhos, elas vêem e sentem, mas mais ainda, as de Luís Santos, constroem, não necessariamente como um acto de engenharia, antes como um acto de dar vida, ensinar a andar, mostrar os caminhos e esperar que a humanidade tome conta. Mas de onde surge esta característica? Como compreender tudo isto? Divaga o artista para responder estas questões feitas somente para compreendê-lo.
“Gosto de mexer nas coisas, tenho muito prazer em trabalhar. Não sei… sou uma pessoa activa. Tenho que mexer alguma coisa. Não consigo ter um trabalho repetitivo”. Explica-se o artista, com o ar perturbado, querendo compreender em si mesmo, toda esta fúria criativa. A exposição que se apresenta no CCFM de 01 de Outubro até 05 de Novembro é um projecto que não vem do acaso, explica-nos. Apesar de ter sempre produzido as suas obras, o artista concentrou-se somente para “Aquilo que o corpo já esqueceu”.
Luís Santos é um artista de todos os dias, que entra na sua oficina e perde-se nos trabalhos que não são trabalhos, é antes a tentativa de dar corpo às suas alucinações, acariciar o imaginário, conviver com o barulho das máquinas que ele mesmo construiu para dar resposta às formas que tem de sair do papel, por onde partem as suas ideias, para a realidade, onde nem sempre é um destino perfeito. “Acidentes de trabalho acontecem, pode ser que uma obra não saia como deve ser, como desenhei, mas poucas vezes. Sempre consigo fazer como a obra foi pensada”, falou-nos do seu processo criativo.O seu local de trabalho que é também o local de morada, está todo configurado para que funcionem as suas ideias. A sua necessidade de chegar à obra final tal e qual foi sonhada e projectada tornam-no num fabricante de máquinas de forjar a arte. Afinal, o seu trabalho com a madeira e o ferro, seus principais materiais, alinham-se com as suas influências familiares. Pesa sobre o escultor Luís Santos, o histórico familiar de serralheiros, escultores, arquitectos, poetas e artistas plásticos, desde avôs até seu pai. Luís Santos prefere pensar, desenhar, ir a procura dos materiais para construir as suas obras, construir as máquinas que ajudem a talhar a madeira e os ferros que se vão transformar em obras de arte, sem dar-lhes um destino acabado, abrindo possibilidades para a transformação. Um artista que se debate com a funcionalidade da arte, um debate que tem consigo desde os tempos da Faculdade de Belas Artes, acaba nos revelando.
“Embora haja um processo semi-industrial, maquinarias, há também uma tentativa de me conectar com uma forma mais essencial de fazer as coisas. Acho que este banco [o banco que será exposto no CCFM] de certa forma representa isso, brinca com a ideia de tradição e foi tudo talhado a mão e aquelas peças foram praticamente talhadas a mão.”
Essencialmente, o artista acaba antevendo o que virão a ser as características da exposição que aí vem.
“As coisas são texturais e chamam o expectador a tocar nelas. Acho que de certo ponto a arte virou-se para o aspecto conceptual, e tudo que interessa é o conceito, a estética não interessa. Não discordo e nem desgosto desta forma de fazer arte, mas acho que se poder trazer o melhor dos dois mundos é bom. Se alguém acha que é visualmente fascinante vai querer explorar mais, vai querer tentar ver o que a coisa lhe transmite. Agora há muita coisa que produzo que vai ser muito específico, fechado, o que interessa é o que aquilo diz para outra pessoa. Não estou a confundir as pessoas de propósito”.
A curadora explica que compreende a forma prática em que trabalha o artista. Todas as suas ideias, têm-nas registadas e só depois dai parte para a construção. “O Luís é muito bom em transmitir as coisas do seu mundo imaginário, o seu pensamento pessoal.
Image result for escultura africanaFinalmente, a exposição “Aquilo que o corpo já esqueceu” parece ser, por um lado, uma proposta para reflexão e debate sobre as tradições, no contrapeso entre os géneros, na forma como se convive com o papel da mulher na sociedade, mas também em como toda uma sociedade se guia por modelos que hoje se mostram falhados e prejudiciais para o equilíbrio. Mas também na forma controversa em que se vê a mulher nas diferentes realidades moçambicanas, em como, por exemplo, uma mulher de joelhos, pode ter diferentes interpretações, nas sociedades matrilineares e patrilineares.Mas também há espaço para a invocação do sagrado. Uma das esculturas que será exposta, representa uma mulher agachada, uma crítica à forma de tratamento da mulher como sexo frágil e que até deve ser submissa, mas feita de uma madeira que vem de uma árvore com um significado espiritual na zona Sul, o canhoeiro, bastante usada para o contacto entre o Homem e a outra dimensão. O que pretenderá o artista com esta mistura?
Há mais em todo o conjunto das obras, o que sempre remeterá para várias reflexões ou contemplações. Desde o desafio às formas, aos conceitos, até à habilidade para construir objectos interativos, que correspondem ao íntimo do artista, essa necessidade de mexer com as coisas, dar-lhes corpo e movimento, como se as tornasse vivas.Uma exposição em que há um “cruzamento de interesses para além das artes plásticas.”, Conclui Sara Carneiro.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Macondo



O escritor moçambicano , Ondjaki e Abubakar Adam Ibrahim, de Angola e Nigéria, respectivamente, são os três dos principais nomes do programa da primeira edição do Macondo Literary Festival - Quénia, que vai decorrer na cidade de Nairobi entre 27 e 29 de Setembro, anunciou a organização.
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Macondo Literary Festival é um festival literário que reunirá, pela primeira vez no continente, escritores da África de língua portuguesa e inglesa, para conversas, debates, leituras de histórias africanas apresentadas em suas obras de ficção e não-ficção e vai convergir no Kenya Cultural Centre, mais de 12 figuras entre escritores, editores, tradutores e cineastas oriundos de Cabo Verde, Zimbabwe, África do Sul, Guiné-Bissau, Brasil, Kenya, Portugal e Reino Unido.

Ungulani proferirá uma palestra sobre a sua obra, como de um painel de debate sobre o “Perigo da História Única”, num certame onde figurarão outras grandes personalidades da literatura universal, caso de Jethro Soutar que é um tradutor inglês de espanhol/português e editor da Dedalus África, uma editora, com foco particular na literatura africana, que está comprometido em disponibilizar obras de autores africanos não traduzidos para um público mais amplo de amantes de livros na Europa e África figura entre os convidados de maior destaque.
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De Cabo Verde está confirmada a presença da romancista Dina Salústio autora The Madwoman of Serrano (Dedalus Africa), o primeiro livro de uma mulher de Cabo Verde a ser publicado em inglês. Da Guiné-Bissau  Macondo Literary Festival recebe a escritora e editora assistente da Dedalus Books e 1/3 do podcast "Not Another Book Book", ambas do Reino Unido.

Para além de Jonny Steinberg, escritor sul-africano, autor da obra “A Man of Good Hope ” e professor de estudos africanos na Universidade de Oxford, dos Quenianos Yvonne Adhiambo Owuor e Peter Kimani e da premiada escritora zimbabweana Novuyo Rosa Tshuma, autora do romance House of Stone (2018) e da colecção de contos Shadows (2013). Seu romance ganhou o Edward Stanford Travel Writing Award de Ficção com um Sense of Place e o Bulawayo Arts Award de Outstanding Fiction, foi finalista do Prêmio Orwell de Ficção Política e do Prêmio Dylan Thomas e finalista do Rathbones Folio Prize - tudo em Somente em 2019.
O realizador português João Viano, cujos filmes foram premiados ou seleccionados nos festivais de Berlim, Veneza e Cannes marca presença ao lado brasileiro Geovani Martins.