quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Elisa weeeeeeee.......


A Universidade Pedagógica de Maputo, homenageou na  terça-feira, 25 de Fevereiro de 2020, na Biblioteca Central, casa cheia,  o centenário da célebre canção “Elisa we gomarasssia"  Moisés Manjate, 100 anos de idade celebrados no último dia 4 de Fevereiro.  Foi uma homenagem carregada de muita emoção e simbolismo artístico, onde cantou-se e dançou-se marrabentamente e pedagogicamente.
O Magnífico Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, disse que Moisés Manjate merece esta homenagem, pois a sua  música se confunde com a história  nacional pela sua eternidade e mensagem factual que transmite à juventude e fundamentalmente às meninas que precisam estar sempre organizadas e bem aprumadas. É preciso engomar a saia. Jorge Ferrão fez questão de afirmar que as Universidades precisam de fazer o exercício contínuo de celebrar figuras que se destacam ou destacaram no engrandecimento da cultura moçambicana através da transmissão de valores éticos e civilizacionais, para que os estudantes vivam e repliquem o legado construído por essas figuras. 

Armando Guebuza, antigo presidente da República e que foi  companheiro de momentos de lazer do homenageado, disse que  esta homenagem mostra que as universidades devem transcender o ângulo clássico do seu foco de ensino e aprendizagem, pois, precisam reconhecer o papel que os artistas desempenham para o desenvolvimento social e cultural do país pelas músicas e mensagens que transmitem. Armando Guebuza em tempos da juventude ouviu, aplaudiu e dançou ao som da música da Orquestra Djambo, na companhia de Joaquim Chissano, Mariano Matsinhe e outros históricos da política, desporto e cultura.
 Os membros da família representados pela filha Guilhermina Manjate, destacaram a grandeza do seu pai, avo e amigo pela atenção cuidadosa que tem para com todos da família. Moisés Manjate filho mais novo da sua geração e hoje com 100 anos de idade continua uma biblioteca incontornável para a classe artística da música moçambicana e especialmente para seus netos que seguem os passos do seu avô, embora num estilo musical mais contemporâneo (Hip hop e Raper)

O momento mais alto da homenagem foi a actuação do grupo musical  "Golden Boys” que usou do seu conhecimento mágico e artístico no manejamento dos instrumentos musicais para fazer os presentes vibrarem a moda marrabenta, reviverem e sentirem o fluir do rítmo  “Elisa we Gomarassaia”.  O homenageado mostrou que a idade não  é sinónimo de impossibilidade para se fazer ao palco, dançou, dançou e dançou muito bem. 

Stuart Sukuma,  amigo pessoal do homenageado e principal entusiasta da efeméride era um músico alegre e completamete realizado com a homenagem ao seu amigo e ídolo. Elvira Viegas, cantora e membro do Conselho Universitário da UPMAPUTO,  cantou e encantou. Orlando da Conceição, saxofonista e líder dos Golden Boys, estes, simplesmente foram vibrantes, encantaram tocando a marrabenta com rara afinação, o que fez com que  Moisés Manjate do alto dos seus 100 anos se levantasse para uns longos, acetardos e marrabentados passos de dança.
João Figueiredo, PCA do MOZA BANCO, o principal parceiro da Homenagem falou com alma e coração sobre o homenageado e do compromisso do MOZA com a cultura. Disse que a marrabenta faz parte da sua sua essência, do seu ser e estar, por isso, para ele e para o Banco que dirige homenagear Moisés Manjate é um acto de eterna gratidão. O Moza abriu uma conta para o senhor marrabenta com 100 Mil Meticais.
As empresas Salvador Caetano e Intelec na hora decidiram realizar o sonho de Moisés Manjate, ele tanto queria e quer conhecer Portugal, especialmente a cidade de Lisboa,.  As duas empresas ofereceram de pronto o bilhete de avião e todo o resto para a concretização do sonho do centenário senhor marrabenta. Moisés Manjate apresentou-se com um fato e chapéu oferta de Imran Bava e vai ganhar um aparelho auditivo para melhor ouvir, oferta da ClineCare.
Moisés Manjate, 100 Anos celebrados no dia 04 de Fevereiro de 2020 e superiormente festejados na Biblioteca da UPMAPUTO, com o apoio do MOZA BANCO,  foi certamente, um acontecimento que marcou e vai marcar de forma indelével o resto da vida do senhor Marrabenta. Bem haja Moisés Manjate. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

"Silêncio,medo,trauma"


São sete anos de carreira e dezenas de vidas já vividas. Encarna a violência em personagens que buscam por uma redenção que quase nunca chega. Isto é a vida. E a actriz parece saber. Por isso, amplia, no palco, as vidas encolhidas no silêncio de milhares de quartos. Eis o retrato de Sufaida Moyane, violência encarnada
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Muitas vezes é verbal, psicológica, velada nos rótulos colocados à testa que não permitem a mulher ir além da quadratura em que foi colocada pelo machismo reinante. Mas noutras vezes – e muitas – é física, escancarada na infância roubada ou na maternidade que se lhe é negada. São vidas de violência encarnadas por Sufaida Moyane (n. 1990), numa carreira iniciada formalmente em 2013.
Talvez seja demasiado duro chama-la duma actriz que encarna a violência, mas parece ser na violência que encontramos a expressão máxima da representação como actriz. Há mais personagens lá para o início. Mas foi escancarada, o que ajuda a perceber a força das outras interpretações, em “Mima/Pedras”, dirigido por Rogério Manjate. É/foi um espectáculo-actriz, é Sufaida mais o silêncio, mais o medo, mais o trauma, mais as pedras que lhe seguem por todo lado. As pedras são uma metáfora, mas podiam não ser, porque a elas é demasiado intrínseca a dimensão de estorvo; a construção do castelo – daquela frase de auto-ajuda - apenas lhe confere outra forma, mas continua presente a ideia de barreira no acesso ao outro ou ao outro lado.
“Mima/pedras” é/foi o retrato sobre a violência que nos entra casa adentro com um sorriso no rosto e que não nos faz perceber-lhe as reais intenções. Quem viu Sufaida Moyane neste espectáculo encontra a matéria com que representou depois os outros papéis. Ao interpreta-la, aprendemos um pouco de como as experiências reais emprestam muito à arte, como é infrutífera a ideia de as colocar em planos diferentes como se tivesse uma cortina de ferro entre eles.
Voltamos a encontrar essa violência em “Os Netos de Ngungunhana”, criação colectiva e “Incêndios”, de Victor de Oliveira, dois espectáculos que tem as guerras como pano de fundo e que parecem ser natural e legitimadoras da violência. No primeiro, entre várias cenas, há uma que a actriz faz de uma mãe que chora a eminência de lhe ser tirado um filho que lhe está ainda para sair do ventre, é tão violenta a iminência, como o esventrar de facto que Sufaida suada representa. Como o também é, noutro, a violência de ter de entregar o filho à vida e depois passar a vida a procura-lo até encontra-lo no homem que a violou enquanto esteve presa.

Resultado de imagem para Sufaida MoyaneEla interpreta as personagens com a força de quem olha o teatro, o palco, como a caixa de pandora, de quem parece buscar, com a personagem, uma redenção que quase nunca chega. A expressão maior é “(Des)mascardos”, de Venâncio Calisto. O espectáculo pode ser visto sobre diversas bandeiras, mas à luz do contexto actual, em que, um pouco por todo mundo, os movimentos feministas – com eles as mulheres - ganham força, não é difícil olha-la - até porque é assim que o dramaturgo e encenador a anuncia - colado a ideia de luta do género. O texto soa como se tivesse sido construído para que tomemos o partido de Amélia, uma mulher que nega à máscara que esteriliza a mulher, com a violência verbal e os estereótipos de que falámos no início. Sufaida Moiane faz de Amélia. Uma personagem que já havia sido interpretada por Lucrécia Paco. Já também havia encarnado outra personagem antes feita por Paco, Xidjana no clássico “os meninos de ninguém”, do Mutumbela Gogo. Talvez por isso muitas vezes comparam-na a Lucrécia Paco. Mas nunca tentou fazer as personagens sob o mesmo rótulo, aproveita-se da mobilidade que os espectáculos dão a cada uma das personagens para transforma-los em seus, sempre colocando cor própria. Até em espectáculos que é a primeira actriz não se deixa levar pelo encenador. Vimos, em alguns ensaios de “As visitas do Dr. Valdez”, também de Venâncio Calisto, em que fazia Sá Caetana como é exigente com ela mesma, sempre a voltar ao início, a procurar no corpo os gestos que condizem com o que se pretende dizer, a procurar na voz o tom reflexo da idade que a personagem sugere, sem cair nas armadilhas das caricaturas de velhinhos, neste nosso contexto teatral em que a falta de continuidade obriga actores e actrizes há um envelhecimento cénico precoce.