quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dor! Tristeza total!


China já lá vai, mas as lembranças que vivi naquela terra enigmática sempre permanecerão, eternamente, no meu ego e na minha vida. Uma delas foi ter descoberto o outro lado do amor, uma significância vinda de muitas e longas noites de solidão, de dor, mas também de alegria.
Amor! Uma palavra de quatro letras. Um sentimento que dificilmente se explica. Esse envolvimento que alguém um dia chamou de “fogo que arde sem se ver”. Esse dueto coreográfico que, mal concebido, pode ser motivo de ódios, guerras e mortes, mas que todos nós participamos na audição para sermos eleitos como actores principais da peça.
Girei em volta do pequeno espaço que tinha no quarto. Masturbei intensamente o meu cérebro à procura da significação artística desse amor que era celebrado e que, mesmo com a distância a separar..., ele vive nos corações dos que se amam!!!
Amor! Um dueto clássico das mais belas coreografias que a natureza criou, cujo epílogo, infelizmente, sempre termina em tragédia. Um espectáculo concebido em QUATRO ACTOS que na sua longa história já foi titulado amor platónico, erros, psique, ludus, storge, pragma, mania e ágape. Uma peça onde cada coreógrafo concebe a história à sua maneira, porém, o SENHOR faz as honras de fechar a cortina quando todos menos esperam.
No primeiro acto, a cortina do palco abre-se lentamente. A picada da luz vermelha ilumina dois pombos em olhares de esguio, profundos e intercalados em toques macios nas mãos. Os dois actores refugiam-se nos cantos do palco, fingindo incompetência sentimental. A luz vermelha desaparece e dá lugar ao branco da lua. Há troca de rosas. Postais. Jantares. Presentes. Há paz. Há cumplicidade mútua. O sorriso brilha e vem ao de cima o toque mágico. As carnes labiais corroem-se de forma tirânica. Não respiram. Os vultos abraçam-se. O dueto prescinde da luz branca e entram os electro-projectores. Há uma sequência intensa de cambalhotas e piruetas no palco. O momento parece trágico, mas não, é o êxtase. O sexo. A iluminação projectada desaparece com os dois actores deitados no estrado, impotentes, de mãos dadas e em carícias, a contemplarem a imagem do céu e da terra. Qual Adão e Eva!!!. Fim da primeira cena.
Chegamos no segundo acto onde muda o cenário do palco. Agora explora-se o verde de esperança. Um momento de incertezas, de desconfianças, do excesso de zelo no amor. O espectáculo quebra, entra em monotonia e nota-se uma falta de criatividade dos actores. A luz escurece seguindo a onda da performance. É tempo de tomar atitude, o público fofoca num acto não convidado. Um dos actores toma a iniciativa e entra em acção!!! Há o indulto. O espectáculo volta a brilhar. Ouve-se palmas nos bastidores. Há saltos que põem em risco os bailarinos em cena, é importante a confiança e perseverança entre ambos para que o show continue em alta. O ciclorama é decorado com a escultura da Afrodite: deusa do amor, sexo e beleza corporal. Na casa do Senhor, assinam o contrato social. É festa rija. A luz desaparece com o xiguiane a condimentar o vínculo numa noite que só faltou o pilão com água...!

O terceiro acto é das núpcias. No palco, entra o amarelo, a luz do calor e da descontracção. Há intensidade sexual nas primeiras cenas. É fogo que arde agora com os bailarinos a verem. O espectáculo entra na fase crítica. É preciso criatividade artística aos coreógrafos, pois, podem entrar em cena outros bailarinos. São nove meses do fabrico do novo bailarino. Poderá deixar de ser dueto. Muitos bailarinos poderão fazer parte do corpo do baile do Grupo Júnior, dependendo das decisões dos coreógrafos. É preciso investir na cenografia e guarda-roupa para os novos integrantes da Companhia. Agora o espectáculo mescla várias formas de expressão artística no mesmo palco, neste caso, a família constituída. O espectáculo continua fantástico. A criatividade atinge o seu apogeu. O público adora, vibra, grita, aplaude. Os coreógrafos sorriem, têm mais projectos artísticos. Espreitam contratos milionários. E de repente. Phu!!! A luz apaga-se. Escuridão total. A cortina fecha-se bruscamente. Chora-se!!!
Entramos no acto dos lamentos! Dor! Tristeza total. A alegria transformou-se em dilúvio. Um dos actores pombinhos está seco, imóvel no palco da morte. O preto de luto bizunta o futuro corpo de baile. É nostalgia! É solidão! É o fim trágico de uma coreografia – amor – cujas peripécias – aliciantes, doces e melosos – foram interrompidas com o fechar brusco da cortina: a morte!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Palavras guiadas

Louvo as iniciativas de promover os festivais de teatro que vão acontecendo um pouco em algumas das nossas cidades. É bom para os fazedores desta nobre arte; é bom para os espectadores àvidos de espectáculos no palco; representado pelo actor genial pela actriz espectacular. Tenho tido a oportunidade de vêr o trabalho de alguns grupos de teatro amador, tenho até trabalhado com alguns actores desses grupos; e os resultados que tenho colhido dessa experiência são em geral os mesmos: dicção dificiente, desconhecimento de pontuação e fraca projeção de voz.
Ora, sem harmonia destes elementos, colocamos em causa o resultado que se pretende numa peça de teatro. Quando o actor sobe ao palco para representar deve ter em conta, que o público o quer ouvir bem e perceber a “clareza da dicção’’; que o público quer sentir a pontuação, para  penetrar no diálogo que decorre entre os actores “palavras - guias’’; que o espectador sentado na última fila da sala, o quer compreender “projeção clara da voz”.
No teatro, a interpretação verbal constitui sempre a base do trabalho do actor, por importante que seja a interpretação plástica, visto que a finalidade de toda a actuação é dar vida à palavra do autor da obra(dramaturgo). A interpretação verbal exige como fundamento um correcto pronunciar da frase e uma clara dicção. O primeiro consiste em aprender a ler de acordo com o sentido da frase e tão claramente que nada do que é dito se perca. Cada frase encerra uma imagem que lhe dá sentido. Esta imagem pode ser representada por uma só palavra ou por um conjunto de palavras a que chamaremos “palavras-guias”.
Ao dizer a frase, temos que marcar o acento, como é lógico, nestas palavras-guias, concentrando nelas a atenção, embora sem aumentar o volume de voz. Ao tentar ler o diálogo de acordo com o sentido notaremos logo que a pontuação gramatical fixada pelo dramaturgo não corresponde, geralmente, ao modo natural de dizer a frase. Isso obriga-nos a fixar certas regras de entoação que para o actor experimentado se convertem em hábito. A entoação da frase determina-se precisamente por meio de pausas da mais variada duração. Deste modo, a pausa pode ser um brevíssimo instante, como também  pode atingir uma longa duração com o fim de efectuar uma “transição”. A pausa, em suma, ordena a frase e serve também para respirar. Respira-se sempre depois de terminar definitivamente uma ideia. Se a frase é longa, procurar-se-á para respirar o momento adequado e lógico.
Podemos estabelecer as seguintes regras para a entoação da frase em relação com a pontoação gramatical.
A vírgula não significa, forçosamente, uma pausa breve. Em muitos casos deve ignonorar-se; o ponto e vírgula podem significar uma pausa breve assim como uma pausa prolongada. Teremos de defini-la de acordo com o sentido; O ponto não significa necessariamente que se baixe a voz.(Adelino Branquinho)