sexta-feira, 18 de julho de 2014

A música quebra barreiras

Guitarrista, cantor e compositor, Jonathan Butler é um músico sul-africano que já conquistou o mundo, e que acredita que no mundo da música o dom e o trabalho é que contam. 
51 anos de idade, 20 álbuns e ainda continua a irradiar energia.

Qual é a fonte?É inspiração. A música, a vida e a minha família são fontes de inspiração. Portanto, é de onde obtenho tudo.
 Começou a carreira com 7, 8 anos de idade. Como recorda esses momentos?Quer que levemos todo dia ou quer que terminemos rapidamente? A minha família era toda de músicos. Fui abençoado em estar numa casa cheia de música. Quando tinha 6 ou 7 anos de idade comecei a cantar em casa. E quando a minha família descobriu que podia cantar, colocaram-me em carnavais, grupos corais, cabaret e bandas. Sem que disso me apercebesse, já era um sucesso na Cidade do Cabo e Durban. Mas profissionalmente comecei quando me juntei ao Golden City Dixies, pois nessa altura viajava em tourné pela África do Sul, Namíbia, Zimbabwe, já com 7 anos de idade. Com 12 fiz a minha primeira gravação e desde então não paro de viajar e gravar.
Com essa idade tinha noção do que estava a fazer?Eu sabia que queria ser músico. Sabia disso, estava dentro de mim. Deus sabe desde o ventre de uma mãe o que serás. E Deus sabia que eu seria músico.
Com 12 anos de idade foi o primeiro negro que passou a música numa rádio no regime do Aphartheid. Como se sentiu?Senti-me feliz. Mas é isso o que a música faz. A música quebra barreiras e todas as regras. Ajuda as pessoas a entenderem e a ficarem conscientes.
Que impacto isso teve para os negros que ouviram a sua música a passar na rádio?Penso que foi um momento de orgulho, porque antes disso escutávamos Stevie Wonder, Jackson Five, Elvis e The Beatles. Então, escutar os irmãos locais, como Miriam Makeba e Hugh Masekela era um orgulho.

Sente que foi um rapaz de sorte quando repara a sua trajectória?Não acredito na sorte, mas sim no trabalho árduo e no dom. Tive muita preparação e prática. Estar no lugar certo, na hora certa, também é importante.

A sua música é, às vezes, classificada como R&B, Fusion ou Gospel. Que música toca?É música do mundo. Não posso deixar de olhar como música do mundo porque sou uma fusão de todos os tipos de cultura. Hoje estou em Maputo, amanhã na Nigéria e depois no Brasil. Sou influenciado por muitos estilos musicais, mas o gospel é verdadeiramente a maior parte do que sou. É por ser o meu chamado, o meu ministério. Está para além do entretenimento. É tocar a vida das pessoas. É ministrar para as pessoas palavras de coragem, esperança, fé e crença. É isso o que gospel é: boas notícias.
Que sensações experimentou ao gravar o primeiro álbum?Foi muito excitante! Ouvir na rádio pela primeira vez foi o momento mais excitante de toda a minha vida.
 Sei que o seu calendário é muito apertado. Como gere, para não esquecer a família?Passas o tempo, quando fazes o tempo, estás presente. Tens que garantir que estás presente. Não podes dizer vamos ao parque, quando estás ao telefone. Passo momentos prazerosos com a minha família a todo momento, mesmo estando em Maputo e ela em Los Angeles, estou sempre conectado.

Por que é que deixou a África do Sul?Não foi sequer uma questão do porquê. Tive uma oportunidade de ir a Londres assinar com JIVE US, e ver o resultado do que podia ser nessa viagem. Fui para lá como compositor e escrevi muitas canções para Millie Jackson, Tom Jones, Al Jarreau, George Benson, Bill Ocean, e etc. E como escritor de músicas desenvolvi minhas próprias gravações.
Onde se sente mais confortável?Sinto-me mais confortável onde a minha família estiver, em Los Angeles. Todos os músicos que gosto estão lá.
 Este é o seu momento da carreira mais brilhante?Sinto-me como se estivesse ainda a crescer. Sinto que sou o melhor no que estou a ouvir na minha cabeça. Sinto que estou musicalmente num bom lugar, porque crio constantemente.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Música na diáspora

Ivan Mazuze é um cidadão do mundo. Depois de lançar dois álbuns, “Maganda” e “Ndzuti”, o saxofonista radicado na Noruega fala do seu percurso como músico e professor de música.

O seu 2º CD, “Ndzuti” é um sucesso. O que isto representa para si?
“Ndzuti” não reflecte o plano que tinha quanto à composição do CD. Quando cheguei à Noruega, em 2010, tinha músicas para o 2º álbum. No entanto, nessa altura tive a colaboração de vários artistas, que me deram uma direcção diferente. Mudei de abordagem e troquei tudo, criando composições com base em experiências que tive com diferentes artistas. Fiz estudos, procurando trazer sons acústicos com elementos de música africana. É desse contexto que surge “Ndzuti”, significado de sombra em português.

Depois de “Maganda”, seu 1º CD, sentiu a pressão de lançar o 2º?
Pressão não, mas um plano. Isto tem que ver com a criatividade, porque quanto mais activa a pessoa for, mais criativa ela se torna.Desde “Maganda” andei activo, e isso foi automático. Só para se ter uma ideia, as músicas do “Ndzuti” não reflectem as do “Maganda”.

Que conhecimentos passa para os seus estudantes?
Não há melhor coisa que dar aulas, tal como alguém também nos ensinou. É uma forma de partilhar conhecimento com os mais novos e planear um futuro para as novas gerações. Eu sou instructor de música e dou aulas com especialização para musicologia africana, mas não partilho só conhecimento sobre a nossa cultura.

Como se sentiu a primeira vez que esteve na sala para ensinar?
Nem todos os artistas têm a capacidade para dar aulas. Para isso, é preciso ter preparação e talento. Dei aulas em Moçambique, Cape Town e, depois, na Noruega.

O que pensa da combinação de instrumentos tradicionais e convencionais?
É altura de termos uma grande banda só de instrumentos tradicionais. Gana é o único país em África, que apresenta uma orquestra de combinação de instrumentos tradicionais. É altura de criar uma orquestra destas porque aí damos uma certa dinâmica e contribuição em termos de música.

Qual tem sido o seu contributo no desenvolvimento da música e da cultura moçambicana?
Há dois anos eu fui indicado como embaixador da música da Noruega na diáspora. É uma boa oportunidade para promover a música moçambicana. Com esta função tenho a oportunidade de me apresentar como moçambicano. Apesar de estar ligado a instituições culturais norueguesas, isso não me impede de me posicionar como moçambicano. É altura do Ministério da Cultura indicar artistas para representar a música na diáspora. Se temos uma economia que está a desenvolver, devíamos puxar a cultura, porque os recursos minerais acabam, mas a cultura não.

É possível estabelecer uma indústria criativa em Moçambique?
Em Moçambique vivemos como se estivéssemos no tempo em que não existia uma indústria musical. Não temos direitos de autores; as músicas tocam na tv, rádio e os artistas não são remunerados. É errado! Estamos em 2014 e politicamente não foi possível estabelecer-se uma indústria musical. Falar de uma indústria não é só em termos de eventos, porque eventos não criam uma indústria musical, mas as leis, que defendem os direitos do autor. É isto que cria uma indústria musical. Não faz sentido que esta não seja prioridade.

É um cidadão do mundo. Como é a dinâmica da sua vida?
Quando a pessoa viaja para diferentes lugares, está exposta à várias culturas, temperaturas, modos de vida, e surge sempre a pergunta: como chegarmos num meio e identificarmo-nos como moçambicanos?

Na Noruega, esta questão tornou-se muito ampla para mim, porque é uma região completamente diferente, em que a nossa identidade cultural tem que sobressair.