segunda-feira, 31 de agosto de 2020

... ... de Jazz Norueguês

 Ivan Mazuze participa da 1ª edição do Husfestival na Noruega

Chegam boas notícias das terras frias europeias. Ivan Mazuze é Conselheiro Nacional do Fórum de Jazz Norueguês, uma organização de cariz artístico-cultural, que reúne a comunidade de jazz da Noruega e que trabalha na promoção do género musical e nas acções inerentes, segundo avança uma nota de imprensa. O fórum em causa tem uma comissão artística, que é um órgão consultivo permanente da administração, em matéria de natureza artística, e é composto por cinco membros, dentre eles, claro… o conselheiro Ivan Mazuze.

Na nova missão, adianta a nota de imprensa, o saxofonista moçambicano tem em manga todos assuntos de natureza artística, designadamente produções, prémios e bolsas. A escolha do saxofonista surge com a necessidade de expor a diversidade e inclusão intelectual nas instituições culturais norueguesas, com base em competência literária, técnica e sua rica experiência enquanto músico, professor e investigador. O novo Conselheiro Nacional de Jazz Norueguês quer, de forma concreta, contribuir para o estabelecimento de formas e condições para a inclusão de diversas expressões artísticas no género musical jazz, para o tornar rico.

O Fórum de Jazz Norueguês foi a primeira organização que Mazuze abraçou na sua chegada à Noruega. O organismo foi para Mazuze, uma fonte de apoio em termos de concessões para realização de vários projectos, incluindo turnês, discografia e estudos aprofundados nos últimos 10 anos. O saxofonista também recebeu dois méritos artísticos da mesma instituição em forma de concessão, 2015 e 2020, finaliza a nota de imprensa sobre a nomeação do artista.

 

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Carta ao P P L

Ao terminar a leitura deste livro, justamente intitulado “O comboio que andava de chinelos”, virei um adulto com olhos de criança, porque, tal como disse, em certa ocasião, o educador Rubem Alves, ainda que a gente cresça, quando lemos os olhos preservam para sempre a propriedade divina do rejuvenescimento. Lendo este livro, na feliz travessia de meio século de vida, senti-me feliz, fiquei com vontade de rezar como a Adélia Prado: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande…”! Pedro Pereira Lopes nasceu há, sensivelmente, trinta e dois anos, mas para além de ser naturalmente adulto, é e sabe ser uma criança. As crianças têm um olhar encantado. O Pedro Pereira Lopes tem um olhar encantado, por isso tem a estranha mania de fazer comboios andarem de chinelos, viajar pelo mundo num grão de pólen; ele consegue ter a magia de fazer elefantes subirem nas árvores e ainda por cima deslumbra-se, maravilhado, com o nascimento de um dentinho, que “nasceu de repente”, “para fechar a baliza” no sorriso nascente de uma criança. Apesar de ter crescido, apesar de ser e assumir-se adulto, permanece criança pelo simples facto de escrever poesia, por isso é que ele, citando Fernanda Paixão, afiança-nos, que: Poeta escreve poesia/ para ser criança todo o dia.

Por isso Pedro Pereira Lopes consegue avaliar quanta ternura ecoa nas sílabas, quando a mãe ameaça chamar um monstro, quando o seu filho, a sua filha chora! Mas na sabedoria que se disfruta na infância qual a criança que não sabe intimamente que o monstro é uma terna ameaça que jamais se consumara? Ele tem olhos de criança porque se encantam com tudo: o arco-íris, que “no início eram gotas de água /como missangas em fios de luz”, as palavras, de quem se interroga fascinado pela íntima sonoridade das palavras e exclama “A pá lavra? Ah palavras!”. Ele tem olhos encantados porque não sabe qual dos animais de estimação, a mãe irá aceitar, se o macaco, se o cão ou se o camaleão; encanta-se com as formas das sementes, as plantas, as flores, os bichos, os riachinhos. Tal como acontece com as outras crianças, tudo para ele é motivo de assombro.

Com este livro, Pedro Pereira reinventa um professor que existe nele, que pretende ensinar-nos para que a gente se encante com o mundo. E reencante o mundo também! Porque seus olhos se apropriaram daquele predicado que, para os gregos, constituía o gérmen do pensamento: a capacidade de se assombrar diante do usual, corriqueiro, banal. Assim no mundo do “Comboio Que Andava de Chinelos” tudo é espantoso: o arco-íris, o sonho, o gato Romeu e o Vô Abreu, sem esquecer o Dicionário de Palavras Geniais. Nas carruagens do Comboio Que Andava de Chinelos sentimo-nos propensos a reflectir sobre a grandeza existente nas coisas singelas e a forma como elas guiam os nossos corações e as nossas mentes pelos trilhos do essencialmente fundamental na existência humana: o entendimento de que a felicidade é um derivado de ações e sensações presentes nas coisas mais simples, mais corriqueiras.

São poemas fáceis de memorizar, onde a poesia e a música se tornam grandes aliadas da educação, pois, através dos versos e melodias de fácil assimilação para as crianças e os jovens, pode-se ensinar novas palavras, histórias e a cultura de onde se vive. Os adultos também, pois afinal ainda o som

os, às claras umas vezes, às escondidas outras tantas. E afinal o Pedro Pereira Lopes, com o compasso do coração, escreveu este livro animado de um grande movimento, como uma dança, porque o compasso do coração garante o ritmo da vida…

tendo como aliado o Walter Zand, cujas ilustrações tecem uma coreografia, onde meninos e cores, piratas, gatos, se convertem em desenho animados sob o impulso e suas mãos criadoras. Com estes poemas, ao recriares a vida em cada instante consciente, ao resgatá-la nos recantos em que ficou adormecida nas recordações avivadas do Reino da Infância. Venham outros livros infanto-juvenis que no final legitimem que eu reze a Deus com Adélia Prado: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande…”!

 Abração fraterno