Estava assim, secretamente, decido: a
Mandoessa, só e somente anicharia um feto no seu ventre caso a sua mãe
desejasse. Tinha sido essa forma ― a de adiamento de gravidezes das suas filhas
com recurso a plantas medicinais e com incomensurável auxílio da sua nyanga ―
encontrada pela Mazalari, a progenitora da Mandoessa. A Mazalari é que era a
responsável pela engravidamento da sua própria filha. Pouco valia, portanto, o
período fértil da filha e a potencialidade do homem que se enroscaria nas mais
profundas entranhas da sua filhinha.
Afinal de contas, tinha sido esta a pretensão
da Mazalari aquando da vacinação tradicional da sua descendente: evitar uma
gravidez indesejada e, consequentemente, um parto igualmente indesejado. Pois,
de acordo com os costumes locais, uma mulher que já se tinha engravidado
alheiamente reunia condição para não vencer um posterior casamento. Assim se
pensava, assim se cumpria quase por todo regulado.
Mas a Mandoessa estava distante de se precaver
desse perigo. Ela se considerava imune, protegida pelas mais pesadas raízes
contra gravidezes na região. Dizia que a sua mãe foi muito atenciosa no momento
que ela ameninava. Lhe tinha dado banho com água purificada com mitchi duma
respeitada, secreta e inominável planta do regulado. Até ela se gabava,
garbosa:
― Eu posso fazer sexo de um a trinta de cada
mês sem preservativo e nunca esses homens me conseguirão engravidar!
Na verdade, essa confiança em demasia na vacina
a si aplicada aquando da sua meninice fez com a Mandoessa se entregasse de modo
descuidado nos braços de qualquer homem, disposto a desfrutar o seu belo e
vulgarizado corpo em acesas e apetitosas relações sexuais. Talvez foi por essa
via que ela contraiu vírus de HIV, diagnosticado mais tarde.
Todavia, uma dose de entristecimento dedicara
uma visitação à vida da Mandoessa por dilatado tempo. Tinha morrido a Mazalari,
mãe da Mandoessa, sem conceder aos companheiros da vida um aviso prévio. No
entanto, não era simplesmente a morte da velha Mazalari que fazia a Mandoessa
acomodar entristecimentos. Era igualmente o facto da já perecida mãe possuir a
chave que abria o seu ventre a anichar novos seres. Sim, tinha morrido a
controladora do seu ventre.
De resto, a partir dessa altura continuou a se
entregar aos homens de modo banal, e desprovida de esperança de um dia seu
corpo constituir o berço de qualquer criatura, visto que, não conseguiria desactivar
a vacina que lhe havia sido aplicada. Mas para o espanto de muitos, a Mandoessa
ficou grávida de três meses logo após a morte da mãe. E nasceram mais
inesperadas conclusões das pessoas que assistiam o sucedido. Uma delas, chegava
a dizer:
― A mãe tinha pedido à nyanga que a sua filha
devia engravidar logo após ao seu físico desaparecimento.
Ora, o aparecimento a gravidez no interior da
Mandoessa, trouxe dois sentimentos opostos, o de satisfação e de insatisfação.
Estava satisfeita porque desvendou fertilidade das suas interioridades. E
ficou, igualmente, insatisfeita porque a gravidez apareceu sem que ela soubesse
o co-autor do feto que jazia no seu ventre. Isto porque ela admitia para o
coito sexos opostos de modo descontrolado, numa autêntica promiscuidade sexual.
Foi mais forte, todavia, o segundo sentimento,
o de insatisfação. A Mandoessa, portanto, entendeu que o bebé que ela
inconscientemente admitira não mais devia continuar protegido no seu ventre.
Então, decidiu preparar uma porção de muquina, fármaco que na região
acreditavam expulsar precocemente os fetos de todos ventres.
De facto, no dia ulterior, a Mandoessa se
estendeu no escasso espaço do quarto de banho. Depois, engoliu a porção do
fármaco tradicionalmente preparado para facilitar abortos. Esperou, de seguida,
que o seu ventre reagisse ante a acção desta muquina. Com efeito, em rápidos
minutos o bebé estava saindo ― ela esperava que fosse morto. Mas o bebé não
saiu completamente. Ficaram encravadas lá no seu interior os fragmentos
inferiores do petiz, nomeadamente as pernas. E foi o próprio bebé que deu conta
deste erro à fracassada infanticida, chorado de modo ininterrupto.
Os choros, de facto assustaram a Mandoessa,
pois não esperava a vida desta criança. A criança ou o feto devia nascer morto,
pronto para arremessado na latrina próxima. Ficou aflita. O problema prescindia
as suas capacidades. Teve que solicitar uma enfermeira que de instantâneo veio
segurar a vida da criança. E nascia assim a Diolinda, de forma não programada.
Ademais, constatou que gravidez que a Mandoessa carregava era já de sete meses,
razão pela qual bebé estava relativamente feito, acabando por completar os
restantes meses no berçário.
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Actualmente sou professor numa escola primária completa, algures na
cidade da Beira, e estudante no 2º ano do curso de História, na UP-Beira.
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