A exposição intitulada “Aquilo o que o corpo já esqueceu” do
escultor Luís Santos que será inaugurada no próximo dia 01 de Outubro no Centro
Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), vem suscitar um debate que vem de longe,
mas que ainda tem respostas ambíguas e controversas. Enquanto o artista procura
expressar a sua personalidade desassossegada, a sua paixão por “coisas” e vai
provocando um debate social, “fingindo” não ser de propósito o que os olhos
vêem.

De resto, Luís Santos, que é um apaixonado pelo desenho, vem
mostrar-se como um detalhista fascinado por quebra-cabeças. Um homem que
convive em pleno com o artista, numa relação em que os dois não se confundem,
são produto da mesma natureza, a insatisfação pelo estado das coisas. Pelas
obras que vem ao público – com a exposição no CCFM a ser um bom momento para
essa convivência com a sua criação – espelha a imperfeição da humanidade, do
universo, como se o mundo fosse pequeno, que cabe nas suas mãos, mas sem deixar
de ser essa universo surpreendente.Uma exposição que conta com a curadoria de
Sara Carneiro, que vive de perto o dia-a-dia do criador, como se completasse a
sua obra. E por isso difícil de não ouvi-la a comentar sobre a obra do artista.
“O Luís tem a necessidade de pegar nas coisas, talhar,
acertar parafusos e essas coisas todas”, um trabalho altamente manual,
portanto.
Há quem diga que as mãos são como os olhos, elas vêem e
sentem, mas mais ainda, as de Luís Santos, constroem, não necessariamente como
um acto de engenharia, antes como um acto de dar vida, ensinar a andar, mostrar
os caminhos e esperar que a humanidade tome conta. Mas de onde surge esta
característica? Como compreender tudo isto? Divaga o artista para responder
estas questões feitas somente para compreendê-lo.
“Gosto de mexer nas coisas, tenho muito prazer em trabalhar.
Não sei… sou uma pessoa activa. Tenho que mexer alguma coisa. Não consigo ter
um trabalho repetitivo”. Explica-se o artista, com o ar perturbado, querendo
compreender em si mesmo, toda esta fúria criativa. A exposição que se apresenta
no CCFM de 01 de Outubro até 05 de Novembro é um projecto que não vem do acaso,
explica-nos. Apesar de ter sempre produzido as suas obras, o artista
concentrou-se somente para “Aquilo que o corpo já esqueceu”.

“Embora haja um processo semi-industrial, maquinarias, há
também uma tentativa de me conectar com uma forma mais essencial de fazer as
coisas. Acho que este banco [o banco que será exposto no CCFM] de certa forma
representa isso, brinca com a ideia de tradição e foi tudo talhado a mão e
aquelas peças foram praticamente talhadas a mão.”
Essencialmente, o artista acaba antevendo o que virão a ser
as características da exposição que aí vem.
“As coisas são texturais e chamam o expectador a tocar nelas.
Acho que de certo ponto a arte virou-se para o aspecto conceptual, e tudo que
interessa é o conceito, a estética não interessa. Não discordo e nem desgosto
desta forma de fazer arte, mas acho que se poder trazer o melhor dos dois
mundos é bom. Se alguém acha que é visualmente fascinante vai querer explorar
mais, vai querer tentar ver o que a coisa lhe transmite. Agora há muita coisa
que produzo que vai ser muito específico, fechado, o que interessa é o que
aquilo diz para outra pessoa. Não estou a confundir as pessoas de propósito”.
A curadora explica que compreende a forma prática em que
trabalha o artista. Todas as suas ideias, têm-nas registadas e só depois dai
parte para a construção. “O Luís é muito bom em transmitir as coisas do seu
mundo imaginário, o seu pensamento pessoal.

Há mais em todo o conjunto das obras, o que sempre remeterá
para várias reflexões ou contemplações. Desde o desafio às formas, aos
conceitos, até à habilidade para construir objectos interativos, que
correspondem ao íntimo do artista, essa necessidade de mexer com as coisas,
dar-lhes corpo e movimento, como se as tornasse vivas.Uma exposição em que há
um “cruzamento de interesses para além das artes plásticas.”, Conclui Sara
Carneiro.
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