terça-feira, 19 de abril de 2016

Crise de Valores ou Valores dos Nossos Tempos

O estímulo para esta tentativa de discussão retribuo eu em primeiro plano a Paulina Chiziane, e ao meu encontro que tive com a sua última Obra.
De que é que se trata nesta, por vezes muito polémico e emocional debate a volta de valores? Eu gostaria imediatamente de apresentar uma exigência, que não trata de uma tese, é apenas uma simples provocação.
Vivemos imersos num mundo de rotinas e de hábitos. Vivemos fazendo coisas atrás de coisas; servimo-nos de todo o tipo de meios e de instrumentos para realizarmos as nossas acções. A vida no seu quotidiano é vivida como sucessão de coisas a fazer e, enquanto tudo vai correndo desta forma que automatizada, não surge a necessidade sobre ela.
Geralmente, não passamos a vida a dar voltas ao que nos convêm, ou não nos convêm fazer. E se quisermos ser sinceros, teremos que reconhecer que fazemos a maior parte dos nossos actos quase que automaticamente, sem nos preocuparmos demasiado com certos assuntos. Tomemos exemplo; queres fazer-me o favor de recordares comigo o que fizeste desde o despertar?!... E porque haveríamos de pensar sobre tudo que fizemos?!...
Sem medo de errar; a rotina e os hábitos são essências na vida; isso ninguém duvida. São tão importantes como o sono e, como estes, uma forma de descanso. No entanto, a vida não reduz ao fazer nem tem uma dimensão exclusivamente “executória” e, para além de fazermos o que temos que fazer, como pessoas temos também necessidades de satisfação, de sentir o sabor (prazer) da vida e de o sentir como algo que o preenche, que lhe causa bem-estar, que lhe proporcione a felicidade.
Então, numa palavra, ao homem não lhe basta viver, ele tem necessidades que a vida tenha sentido de viver uma vida com sentido. E, essa necessidade para que seja tão vital do que qualquer outro ponto de ausência de sentidos, o absurdo e o desespero poder culminar no suicídio.
 Porque a exigência de sentido da pergunta sobre os valores? Veja bem; a vida do homem não é ser vivida repetindo os padrões da espécie; é ele próprio. Ou seja, cada um de nós é quem deve viver. Sendo assim, o homem é o único animal que pode estar aborrecido, que pode estar enjoado, que pode sentir-se excluído.
Na verdade, o homem é um ser que não se resigna à insatisfação de uma vida sem sentido, tem sede de realizar suas ambições, em meio, se dispõe a lutar incessantemente por uma vida mais condigna, assumida e plena, mesmo que isso tenha de cortar com as amarras dos hábitos, do já pensado e das rotinas e de declarar guerra ao que, sob a forma de anónimo, do aparente natural e do impessoal, lhe corta, afinal, a criatividade, a liberdade, a vontade de se afirmar como alguém que tem palavra a dizer, que se quer fazer ouvir e que teima em cultivar uma relação de apreço pela autonomia e de respeito por si próprio.
É assim que, a insatisfação com todo que ocorre em nosso redor, e desestabilizadoras da sua relação habitual conduz à reflexão. Destarte, através da reflexão somos levados a dar novas configurações ao que nos rodeia, a rever ideias sobre as quais nunca tínhamos pensado, a reavaliar convicções sobre as quais nunca nos tinham surgido dúvidas.
Na verdade, o problema da reflexão só se põe como tal porque todo o desenvolvimento social, tende à desconcentração do ser humano para fora de si, procurando evidenciar a inutilidade da actividade reflexiva sobre qualquer das suas formas.
Será que valores são perenes? Ou seja, independente do tempo, espaço e dos seres humanos concretos que os realizam? Ou, pelo contrário, dependem das épocas dos homens e das culturas? De modo geral, existem defensores de uma e de outra posição.
Certamente, a questão permanece em aberto, e do mesmo modo, e se reflectirmos sobre os padrões morais das diferentes épocas e das diferentes sociedades chegamos às mesmas conclusões. Note-se que; ao descrevermos os valores não podemos esquecer nem o sujeito, nem o objecto nem o ideal que dirige a acção. De certo, estes três elementos são associados e nenhum se da sem os outros.  
Tanto que, os debates que se tem consumido na questão de saber qual dos três é o elemento mais importante revelam-se bastante acesos e por vezes com alguma inanidade sendo que; não podemos falar de valor em si. O dever de ser valor depende da relação que, numa situação, coloca um sujeito perante o objecto.
 Você vê, reconhecemos, no ponto anterior, a estreita dependência dos valores das épocas e das sociedades que os enraízam. Mas neste caso, urge perguntar qual a origem dos valores? Quais os motivos estão do seu surgimento?
Aí interrogamo-nos sobre a genealogia (origem) dos valores o que se pretende é, uma reflexão bem mais ampla, e, ambiciosa de discutir não a crise dos valores mas, muito mais que isso é a mutação (modificação); ou seja, não existe uma área da manifestação da actividade humana nos dias que hoje correm; passando pelas artes, mentalidades, cultura, nos costumes, na política enfim…as pessoas hoje estão passando por uma mutação radical isso, talvez puxado pela tecnociência (junção entre a imaginação e conhecimento).
Então, estamos agora em condições de compreender melhor o sentido da questão. Não existem uma moral universal, o que significa que os valores são relativos (que não é tomado em sentido absoluto) e cambiáveis como também estão pois ligados às condições de existência das pessoas, justificam as suas hierarquia e os seus mecanismos mudam quando essas condições de existência também mudam, uma vez que, os valores têm um sentido histórico/antropológico e não estão constituídos de uma vez por todas.
Sendo assim; qual pode ser o sentido deste desdobramento da questão em análise?
É já neste contexto que; a crise e crítica, tem origem comum no verbo grego que significa separar, escolher, julgar, decidir. O uso das palavras crino e crisis cedo invadiu a linguagem jurídica e por isso, crisi além de significar separação e disputa, designou também a decisão no sentido de uma sentença, de um juízo definitivo por Aristóteles, na política vinculou a ideia de estabelecimento e constituição e de ordem.
Desde Platão, verificou-se o uso da forma adjectiva ‘critica’, que referida à capacidade e à arte de decidir e de descobrir o juízo adequado, tendo ligado o seu sentido à ponderação dos argumentos «pró e contra» à actividade deliberativa.  
De modo que, a crise de valores significa que, os valores estão ser objecto de análise, estão sendo submetidos a uma espécie de tribunal ao qual competirá “julgar” os argumentos «pró e contra», para dai poder “decidir”sobre a sua adequação.
Destarte, a ordem e funcionamento das sociedades dependem desta avaliação, desta “deliberação” e é nesse sentido que podemos usar o termo crise. Ou seja, a crise não significa, assim, o anunciou de um estado de coisas escandalosas de dimensões épicas em que tudo se encontra completamente desencaminhado, quer nas instituições e nos valores. Mas, se prestarmos atenção ao seu sentido etimológico (origem) você vê, que a acepção desfruta na verdade um sentido positivo. Quer dizer, trata-se de uma reavaliação criadora e prospectiva (sobre futuro), de um momento de reformulação em que, se questionam adequação e o funcionamento de alguns modelos de convivência social, para dai melhora-los, reformula-los, ou, se necessário substitui-los por outros que se considerem ou, se julguem os melhores.
Então, a crise na verdade, não é sinónimo de desnorte mas, da busca racional (ponderado/sensato) de «pesados os prós e os contra» de orientação; não significa estagnação mas, é antes um pressuposto necessário de toda evolução (progresso).
Afirmar que vivemos em crise de valores, isto quer dizer que, os valores existentes são questionáveis, de modo a tornarem-se capazes de responder às nossas exigências da sociedade actual prenhe de incertezas. Nos casos os próprios bons, os homens distintos, os poderosos, os superiores que julgaram boas as suas acções isto é, estabelecendo esta nomenclatura por oposição a tudo o que é baixo, mesquinho, vulgar e, até vilão (desprezível).
Destarte, dada sua importância, importa compreender se os valores que nos sustentam hoje no país desenvolvem se, ou, se pelo contrário, atrofiam a sociedade? Adivinha agora você, a resposta a questão, se os valores são um factor de desenvolvimento ou de desdesenvolvimento ou, de atrofia da sociedade?
Você vê; uma análise profunda da nossa sociedade, monstra que de facto, a palavra crise parece ter-se instalado em todos campos da manifestação da actividade: ouve-se falar de crise na educação e no ensino, na crise das ideologias, na política e dos valores, na crise social e cultural, na crise ética e moral, na crise no funcionamento das instituições e sua liderança. Enfim… O problema não é mais conhecer o que é crise, mas, transformar essa crise através da transmutação de valores.
Naquele lugar, urge reanalisa-los e reformula-los esses valores ou, se necessário como diria Nietzsche, reinventar novos valores, que substituam com outros para que, se erga o individuo livre (criador) o Super-Homem como o chamar-lhe-á.
n/b: As más notícias são um facto nos dias que hoje correm no país. Você vê, cada vez que abrimos um jornal, ligamos a televisão ou o rádio, somos confrontados com informações tristes. Não há um só dia, que passe sem que nalguma parte do país, aconteça algo que todos consideramos como uma desgraça. Não importa de onde vimos nem qual é a nossa forma de pensar, todos nos sentimos tristes, uns mais, outros menos, quando ouvimos falar do sofrimento (dor) alheio, pela perda de pai, irmão, marido enfim... Nós moçambicanos todos, não podemos partir do princípio como acontece, que as pessoas não têm noção do bem e do mal (maniqueísmo) ou, do que é moralmente correcto, só porque alguns mentirosos se acham imortais.
Não é para faltar respeito. Uma pessoa que cumpre ordens sumárias de executar outra pessoa, acreditando que se trata de uma causa justa, supondo que essas acções são para o bem da sociedade, é simplesmente aterrador. Pelo contrário, de acordo com o princípio da não-violência, matar o outro é, por definição um acto contrária à ética.
Destarte, cumprir esse tipo de ordem é um comportamento extremamente negativo; uma vez que, o conteúdo das nossas acções também é importante para determinarmos se são moralmente correctas ou não e, certos actos como matar são negativos por definição.  
Na verdade, para que exista alguma esperança de resolver os nossos problemas temos de encontrar formas ou (meio-termo) de o fazermos. Temos de ter meios para escolher por exemplo, entre as matanças como meio de reforma política e os princípios de Nelson Mandela sobre a tolerância política.
Naquele lugar, devemos nós moçambicanos todos, poder transformar, que a violência para com os outros está errado. Do mesmo modo, não podemos discriminar entre o certo e errado se não tomarmos em linha de conta os sentimentos dos outros e, os seus sofrimentos. 
Pelas mesmas razões; a conservação da vida e todos moralistas, de que faço parte, condenam e proíbem o recurso ao homicídio (morte) como forma de resolução de divergências (desacordos). Na verdade, o homicídio é um crime grave contra a sociedade e contra Deus. Contra a sociedade, porque assim se priva do melhor da pessoa, que muito embora a vida seja cheia de sacrifícios, não só… mas também, porque lhe arranca um dos seus membros que lhe poderia ser útil; finalmente, contra Deus, porque o homem, ao executar (matar) o outro arvora-se num direito que não tem, visto que só Deus é o senhor da vida.
Destarte, somos chamados todos nós mocambicanos, a usar da temperança, isto é, moderarmos os nossos impulsos das tendências sensíveis e não as satisfazer senão na medida em que, são conforme à razão.
Do mesmo modo, a conservação da vida e todos moralistas, condenam e proíbem, qualquer tipo de agressão mais ou menos grave, que ponha em perigo a vida ou mesmo a saúde do próximo. Exceptuando os casos de legítima defesa, quando agredidos pudermos salvar a nossa vida, senão sacrificando a vida do agressor.
O duelo ou combates com arma em punho, para ferir ou matar. O duelo ou combate com arma em punho, encerra a maldade e a morte. A mutilação, ou a privação de um membro de corpo; esta só é legítima, quando se trata de operações cirúrgicas para bem do todo.
Em último lugar, a conservação da vida e todos moralistas, condenam a calúnia, maledicência, a injúria e tudo o que possa subtrair a honra e a boa reputação do próximo. 
Muito Obrigado.
(Por Capitão Manuel Bernardo Gondola)










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