Há
quem diga que o Homem, na terra, é efémero e que um dia irá transcender para
uma outra dimensão. E o que dizer dos objectos? Bem, se colocássemos a pergunta
a João Roxo, a resposta seria, eventualmente, estão em trânsito. E logo se
percebe, afinal “Objectos em trânsito” é o título da exposição do artista
visual moçambicano, patente no Centro Cultural Português, em Maputo, até
próximo mês. Nessa obra, feita de batik, instalação, som e vídeo, Roxo resume o
que expõe ao conceito que persegue, o qual alicerça-se à promoção de uma
reflexão sobre fenómenos que envolvem a humanidade e a sua presunção.
À
partida, “Objectos em trânsito” parece algo difuso, vazio e de um suspense
inquietante. Precisa-se estar conectado ao espírito do criador, tentando sê-lo,
para que se enxergue a profundidade das coisas que são ditas, com e sem
palavras. É uma exposição multidisciplinar, na qual o artista esgota-se na
exploração dos espaços no lugar onde a obra está patente. Em alguns casos, há
peças da obra penduradas; outras encontram-se nas paredes e ainda outras no
chão. Isso provoca e desafia-nos à medida que naqueles artefactos procuramos
ouvir o que o silêncio não diz, porque não quer ou porque não pode. Sei lá… a
verdade, ou pelo menos o que parece ser, é que o vazio e o difuso desvanece num
zás, e, num rompante, começa-se a visualizar trechos, atalhos e o horizonte
para onde se move tudo aquilo.
A
propósito de movimento, isto é o que a exposição de Roxo sugere nessa projecção
por vezes fílmica em que determinadas partículas partem de um lado para o outro
ou transportam algo de concreto ou intangível. Por exemplo, sob os “post fear”
colocados à parede do Camões, papeis transportam informação, conhecimento como
princípio de tudo cuja meta é uma partilha contínua. De igual modo, o som da
rádio ou das telas apresentam nas suas ondas sugerem realidades,
transferindo-as de um lugar para mente. São essas ondas repetitivas que quebram
o silêncio, no entanto sem o anular. É como se o som e o silêncio fossem duas
faces complementares de uma moeda ideal, cheia de mensagens: “como os objectos,
estamos todos em trânsito”. A este nível, a outra questão é: para onde? Nem Roxo
e tão-pouco a exposição devem ter a resposta. E se tiverem, nada explícito.
Na
parede do Camões há ainda traçados a cor que nos devolvem ao raciocínio as
imagens dos plásticos, esses como que veículos que transportam variados
produtos. À frente dos plásticos, os fardos, também esses transportadores de
roupas, calçados, etc. Portanto, de forma recorrente, os fragmentos que
constituem a exposição de João Roxo revelam como o autor está preocupado com o
movimento dos objectos, poluentes, “benevolentes” e informativos. Para onde
isso vai? E depois, qual o problema a advir desse movimento?
Retratando
os objectos, como efeito ou mesmo como causa, Roxo questiona o materialismo e
dependência que isso cria em nós. Vendo a exposição nesta perspectiva, na
essência, não é de artefactos que se trata a obra do artista visual. É mais
ousada ao criar daí um paralelismo com que hoje define a condição humana,
apegada às coisas palpáveis, se calhar, por resolverem problemas pontuais,
todavia reféns a algum cronótopo. Se os objectos estão num trânsito banal e
previsível, e então, o que dizer dos homens que se apegam aos mesmos? Enfim,
Roxo conduz-nos a esse movimento espiral para fomentar uma introspecção em nós,
quiçá para aprendermos a guardar o que não presta, de modo a encontrarmos o que
é preciso.
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