segunda-feira, 3 de outubro de 2016

“Comboio de Sal e Açúcar” estreia em Locarno

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Locarno é mais do que uma cidade para Licínio Azevedo, é, na verdade, um espaço de concretização de sonhos. E só podia ser, pois é naquele ponto do mundo que decorre anualmente um dos cinco maiores festivais de cinema. Há dois anos, naquela cidade turística da Suiça, o realizador moçambicano viu a oportunidade de transformar o romance “Comboio de Sal e Açúcar” em filme.
O projecto ganhou dois dos três prémios disponíveis para apoiar a realização dos projectos cinematográficos de vários países num fórum de financiamento denominado “Open Doors”. Foi exactamente na 67ª edição do certame que o filme foi subsiado perante um júri europeu, que envolvia televisões e agências governamentais. Entre 900 projectos, “Comboio de Sal e Açúcar” foi um dos dois guiões premiados, o que garantiu o início da sua produção.
Resultado de imagem para cinema locarnoPor isso, Locarno era o sítio ideal para estrear internacionalmente a longa-metragem. E assim foi… com 4500 espectadores, em Piazza Grande – no coração do festival – “Comboio de Sal e Açúcar” foi bem recebido e, como se não bastasse, mereceu o Prémio de Melhor Produção, em Agosto passado. Este prémio foi atribuído pelos críticos de cinema italianos. Os profissionais da sétima arte justificam que é por demostrar “um novo caminho do cinema africano e porque é prova de como um cinema africano pode chegar ao grande público”, conta Licínio Azevedo, numa entrevista ao Jornal O País, na tarde deste sábado. O realizador acrescenta que o filme emocionou o público e foi aplaudido por ser diferente, pois embora retrate uma história de guerra dos anos 80, aborda também o drama do amor, o que o torna contemporâneo. 
Depois de Locarno – onde teve a estreia internacional – o filme vai seguir por outros festivais. Em Outubro, vai participar no Festival do Rio – maior montra do cinema ibero-americano, que exibe filmes de Portugal, Espanha e América Latina –, depois está convidado para Índia, no Festival de Goa, já com 60 anos de história e para vários festivais que para Licínio Azevedo não é novidade, pois em alguns deles já amealhou vários prémios. “Virgem Margarida” é um dos filmes que foi bastante agraciado.
Resultado de imagem para licinio azevedoPortanto, só depois dessa fase dos festivais (fase que o realizador não sabe quanto tempo vai durar) o filme será mostrado noutras plataformas. “O que eu pedi aos produtores é que fosse feito um trabalho no sentido de levar os filmes ao público, não a festivais que tem público restrito, mas às salas de cinema”, partilha. Só que o realizador lamenta o facto de Moçambique não ter muitas salas de cinema, o que vai dificultar o maior alcance pelo menos no país.
Na segunda fase da mostra, será exibido para vários países onde estão os co-produtores – Suiça, França, Portugal, Brasil, África do Sul e Moçambique – e outros países com distribuidores já garantidos.
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A terceira fase também já está assegurada. A divulgação do filme, neste período, será em África, onde 17 países serão contemplados. “Eu acho que o filme vai cumprir com os meus ideais, que é chegar ao grande público e sair desse esquema restrito que são os festivais”, finaliza.
A longa-metragem de 90 minutos que tem como principal elenco os moçambicanos António Nipita, Sabina Fonseca e Melanie Rafael, o angolano Matamba Joaquim e o brasileiro Tiago Justino conta a história de centenas de moçambicanos que viajavam de Nampula a Malawi para trocar sal por açúcar. É um retrato dramático dos episódios da guerra civil que inclui também uma história de amor.
“Comboio de Sal e Açúcar” é baseado no livro homónimo que Licínio Azevedo escreveu há mais 15 anos.

Salas de cinema: rentabilidade para a sétima arte

“A rentabilidade do cinema depende da capacidade dos produtores conseguirem ter distribuidores”, assegura Azevedo, acrescentando que que o cinema americano chega ao “grande público” porque para cada um dólar investido para na produção de um filme, as vezes são 100 milhões, há um outro dólar investido na distribuição quando se faz a publicidade e se chega às salas. “Nós infelizmente não temos isso. Já para conseguir um milhão de dólares para fazer um filme de guerra é muito imagina o dinheiro para distribuição”, lamenta. O realizador diz que esta triste realidade abala o mercado africano, da América latina e grande parte da Europa. Ou seja, um filme só é rentável quando há muitas salas de cinema e se o público conseguir ver os filmes. O contrário disso, não haverá recursos para a materialização de outros filmes, excepto guiões de realizadores já conhecidos. E repete-se o ciclo, realizadores desses países voltam a concorrer para serem premiados, tal como foi agora com “Comboio de Sal e Açúcar”. 

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