quarta-feira, 9 de julho de 2014

Música na diáspora

Ivan Mazuze é um cidadão do mundo. Depois de lançar dois álbuns, “Maganda” e “Ndzuti”, o saxofonista radicado na Noruega fala do seu percurso como músico e professor de música.

O seu 2º CD, “Ndzuti” é um sucesso. O que isto representa para si?
“Ndzuti” não reflecte o plano que tinha quanto à composição do CD. Quando cheguei à Noruega, em 2010, tinha músicas para o 2º álbum. No entanto, nessa altura tive a colaboração de vários artistas, que me deram uma direcção diferente. Mudei de abordagem e troquei tudo, criando composições com base em experiências que tive com diferentes artistas. Fiz estudos, procurando trazer sons acústicos com elementos de música africana. É desse contexto que surge “Ndzuti”, significado de sombra em português.

Depois de “Maganda”, seu 1º CD, sentiu a pressão de lançar o 2º?
Pressão não, mas um plano. Isto tem que ver com a criatividade, porque quanto mais activa a pessoa for, mais criativa ela se torna.Desde “Maganda” andei activo, e isso foi automático. Só para se ter uma ideia, as músicas do “Ndzuti” não reflectem as do “Maganda”.

Que conhecimentos passa para os seus estudantes?
Não há melhor coisa que dar aulas, tal como alguém também nos ensinou. É uma forma de partilhar conhecimento com os mais novos e planear um futuro para as novas gerações. Eu sou instructor de música e dou aulas com especialização para musicologia africana, mas não partilho só conhecimento sobre a nossa cultura.

Como se sentiu a primeira vez que esteve na sala para ensinar?
Nem todos os artistas têm a capacidade para dar aulas. Para isso, é preciso ter preparação e talento. Dei aulas em Moçambique, Cape Town e, depois, na Noruega.

O que pensa da combinação de instrumentos tradicionais e convencionais?
É altura de termos uma grande banda só de instrumentos tradicionais. Gana é o único país em África, que apresenta uma orquestra de combinação de instrumentos tradicionais. É altura de criar uma orquestra destas porque aí damos uma certa dinâmica e contribuição em termos de música.

Qual tem sido o seu contributo no desenvolvimento da música e da cultura moçambicana?
Há dois anos eu fui indicado como embaixador da música da Noruega na diáspora. É uma boa oportunidade para promover a música moçambicana. Com esta função tenho a oportunidade de me apresentar como moçambicano. Apesar de estar ligado a instituições culturais norueguesas, isso não me impede de me posicionar como moçambicano. É altura do Ministério da Cultura indicar artistas para representar a música na diáspora. Se temos uma economia que está a desenvolver, devíamos puxar a cultura, porque os recursos minerais acabam, mas a cultura não.

É possível estabelecer uma indústria criativa em Moçambique?
Em Moçambique vivemos como se estivéssemos no tempo em que não existia uma indústria musical. Não temos direitos de autores; as músicas tocam na tv, rádio e os artistas não são remunerados. É errado! Estamos em 2014 e politicamente não foi possível estabelecer-se uma indústria musical. Falar de uma indústria não é só em termos de eventos, porque eventos não criam uma indústria musical, mas as leis, que defendem os direitos do autor. É isto que cria uma indústria musical. Não faz sentido que esta não seja prioridade.

É um cidadão do mundo. Como é a dinâmica da sua vida?
Quando a pessoa viaja para diferentes lugares, está exposta à várias culturas, temperaturas, modos de vida, e surge sempre a pergunta: como chegarmos num meio e identificarmo-nos como moçambicanos?

Na Noruega, esta questão tornou-se muito ampla para mim, porque é uma região completamente diferente, em que a nossa identidade cultural tem que sobressair.

Nenhum comentário:

Postar um comentário