A Câmara de Amadora, em Lisboa, Portugal,
atribuiu no passado dia 6 de Junho, o nome Malangatana a uma das suas ruas em
homenagem ao Mestre, no dia em que este completaria 80 anos de vida. O evento,
dá inicio a uma reflexão sobre a vida e obra de Malangatana cujo o objectivo é
a documentação da sua vasta obra através de debates, conversas, exposições e
outras iniciativas promovidas pela família, Fundação Malangatana, amigos e
instituições.
Com o pincel, a sua arma de arremesso,
retratou as injustiças do colonialismo, e pelo meio do caminho, o bicho do
nacionalismo se instaurou no seu coração que agora parou. Pela PIDE, foi preso
e julgado por pertencer a uma célula clandestina da Frelimo.
Mesmo nas
masmorras não largou o pincel. Em liberdade, e com a chegada dos adventos das
independências das antigas colónias portuguesas, a expressão da sua obra
conquistou o mundo. Mas quem é este homo-artista que ultrapassou e
quebrou barreiras espalhando o seu talento pelo universo?
Malangatana Valente Ngwenya (“crocodilo”, na língua ronga)
nasceu em 6 de junho de 1936 em Matalana, periferia de Lourenço Marques (hoje
Maputo), capital da então província ultramarina de Moçambique. Foi pastor,
agricultor, aprendiz de curandeiro e apanha bolas em um clube de ténis. Foi lá
que conheceu o biólogo português Augusto Cabral, que o ajudou nos primeiros
passos na arte. Mas seria o arquirtecto Pancho Guedes o seu “descobridor” que
lhe cedeu espaço para pintar a noite na sua garagem. E não ficou por aqui.
Todos os meses lhe comprava dois quadros a preços de pechincha. Pouco depois, o
rapaz decidiu apresentar o trabalho ao público. Foi um sucesso. “De um ano para
o outro [o Malangatana] passou de simples empregado de bar e limpezas num clube
de elite moçambicano para um pintor de grande reputação”, recordou Pancho
Guedes, surpreendido pela morte do antigo protegido. “Fazia uma pintura que era
só dele, não precisando que ninguém lha ensinasse ou interpretasse”, disse
Guedes a propósito da morte de Malangatana.
Nomeado “Artista da Paz” pela
Unesco, ele ficou famoso no mundo pelos retratos que fez da guerra colonial em
Moçambique. Enormes murais de Malangatana decoram vários prédios em Maputo,
como, por exemplo, o hall de entrada do Ministério do Interior e as
paredes externas do Museu de História Natural. Sua obra é marcada pelas
pinceladas fortes, de cores vibrantes, que retrataram os moçambicanos com
expressividade e sentimento. Os retratos de rostos sofridos pela opressão
colonial e pela guerra de libertação percorreram o mundo. Além de pintar, o
artista também fazia esculturas, tapeçarias e usava muitos elementos naturais
nas suas obras, como raízes, conchas, sementes e areia.
Foi poeta, actor, dançarino,
músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até
deputado da Frelimo, partido no poder em Moçambique desde a independência. A
morte do ‘Crocodilo’ como gostava de ser chamado pelos mais próximos, apanhou
de surpresa aos seus colegas, muitos deles que deram os seus passos na sua casa
– aonde tinha o atelier – que continuam estupefactos e incrédulos. O escritor
Mia Couto considera que com a morte de Malangantana Moçambique “perdeu uma
espécie de embaixador permanente da cultura”.
A 6 de Junho de 2006, foi
homenageado em Matalana por ocasião do seu 70º aniversário, sendo sido
condecorado pelo presidente da República de Moçambique com a Ordem Eduardo
Mondlane do 1º Grau, o mais alto galardão do pais, em reconhecimento do
trabalho desenvolvido não só nas artes plásticas mas também como o maior
embaixador da cultura moçambicana. Nessa mesma data foi lançada a Fundação
Malangatana Ngwenya, com sede em Matalana, sua terra natal. A sua vida e obra
tem sido objecto de vários filmes e documentários. Está representado em vários
Museus, por todo o mundo, bem como, em inúmeras colecções particulares. Até a
data da sua morte, Malangatana era membro do Conselho de Estado, um colégio
criado para aconselhar ao Presidente da República sobre as várias questões da
vida do país.
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