Quando a Covid-19 chegou, o
teatro estava mais sólido. Sobretudo, rejuvenescido. A mulher, neste processo,
em constante emancipação. Entretanto, a pandemia quebrou este ritmo e, de certa
forma, colocou o artista numa situação crítica. Esta é uma das interpretações à
actriz e encenadora, Maria Clotilde.
Maria Clotilde Guirrugo é uma
actriz abnegada. É por aí que também encena. Encontra-se, neste momento, a
dirigir a companhia de teatro Hanya Artes, sem contar que é uma das
beneficiárias da evolução desta arte cénica em Moçambique, afinal, é licenciada
em Teatro, pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da Universidade Eduardo
Mondlane (UEM).Maria Clotilde fez parte de alguns filmes, como “O Murro da
Vida”, de António Machaieie. Participou de “Maputo nakurandza”, da brasileira
Anadine Zampaulo e “Mosquito”, do português João Nuno Pinto. Participou em mais
de 20 peças de teatro, em Moçambique e no estrangeiro. Pode destacar-se, dentre
outras, que elencou “Noite das hienas”, uma peça encenada pelo português
Fernando Moura Ramos (Teatro da Rainha – Lisboa).
As mulheres no teatro, explica
Maria Clotilde, estão cada vez mais emancipadas. “Estamos mais envolvidas.
Nos séculos passados, a mulher não era digna dos palcos. Inclusive, os homens é
que faziam papéis femininos. Elas eram muito protegidas. Hoje em dia, nós somos
as protagonistas”, disse Maria Clotilde.A actriz e encenadora, disse que
está ciente que a mulher artista ainda tem muita estrada por percorrer. “O
caminho é único. Devemos nos colocarmos melhores, profissionalmente. Podemos
expressar da melhor forma o que sabemos”.
Nesta emancipação, segundo
Maria Clotilde, há exemplos a serem seguidos. É o caso, no teatro, de Manuela
Soeiro, fundadora do Mutumbela Gogo e directora do Teatro Avenida. Da Kwanja
Zawares, da companhia de teatro “Mitsu”. Ou, de tantos outros exemplos, da
actriz e professora de teatro, Josefina Massango, que foi directora do curso de
Teatro na ECA. “Temos, cada dia, muitas mais mulheres em cena, como actrizes e
directoras”, considera. Nessa lógica, “as mulheres dominarão o mundo”, conforme
diz Maria Clotilde. “O caminho a seguir é esse. Ser cada vez melhor. Superar a
sua própria sabedoria. Testar os seus próprios limites, sem guerrilhas
desnecessárias”. Entretanto, para Maria Clotilde, há que centrar esforços para
o actual inimigo comum da humanidade, o novo Coronavírus. É em tempos de
pandemia, que se percebe o real valor do teatro, que “para além de entreter, é
também educativo e de sensibilização cívica”.As limitações impostas pela
quarentena, conforme explica Maria Clotilde, levam à inovação. É o lado bom
deste tipo de crises.
“Não podemos ir à rua, mas podemos chegar às casas do
nosso público. Não presencialmente, mas virtualmente. Aliás, o mesmo já se faz
na televisão”, destaca.
Maria Clotilde lembra que a
crise causada pela pandemia do novo Coronavírus coloca muitos fazedores do
teatro numa situação crítica. “Infelizmente, nós os artistas estamos
desempregados. Mas, nem por isso, vamos nos dar por vencidos. Vamos arregaçar
as mangas, trabalhar, reflectir e pôr em prática novas saídas”. Importa
referir que Maria Clotilde já está a inovar. Encontra-se a desenvolver “Live
Artes & Conversas”. É um programa online, com um fim claro:
“fazer chegar a arte às casas de cada um, sem precisar criar aglomerações”.(Literatas)