É Melhor
Jovem Actriz Africana. Que emoções despertou em si vencer o prémio no Burquina
Fasso?
Para ser honesta, foi a concretização de uma coisa
que já sonhava há muito tempo, desde pequena. Esperava que a distinção feita
pela Academia Sotigui, sediada no Burquina Fasso, acontecesse, mas daqui a uns
10 anos. Ter vindo antes, significa muito mais responsabilidade, muito mais
trabalho e muito mais aprendizado, acima de tudo. Foi bom conquistar o prémio e
dedico-o a todos os moçambicanos.
Que
relação estabelece entre o prémio atribuído pela Academia Sotigui, Comboio
de sal e açúcar e o cinema moçambicano?
Comboio de sal e açúcar foi um filme que me
ensinou muito. A Rosa [personagem interpretada por Melannie de Vales no filme
de Licínio Azevedo] é uma mulher muito astuta e assertiva. Muitos dos valores
que aquela personagem defende ensinaram-me imenso. E este aprendizado valem-me
como mulher e como actriz.
O papel
que desempenhou no Comboio de sal e açúcar tem que ver com um certo
passado de Moçambique. Resgatar esse tempo, esse espaço e essa memória o que
significou para si e o que espera que venha a significar para os que pretendem
conhecer a história do país?
O que acha
que pesou para a premiação Melhor Jovem Actriz Africana?
Primeiro, eu não estudei teatro e nem estudei
cinema. Entretanto, todos os filmes que eu fiz contribuíram para aquela actriz
que me tornei. Segundo, O comboio de sal e açúcar exigiu muito de mim, a
Rosa exigiu muito de mim. Acredito que a combinação destes dois factores
contribuíram para que eu vencesse o prémio no Burquina Fasso.
Todos os prémios que vieram, quer para os actores
quer para outras categorias, revelam que o Licínio tem muito bom gosto naquilo
que ele escolhe para dar vida, na forma como ele escreveu o Comboio e na
produção que ele escolheu. Felizmente, durante as gravações, nós não tínhamos
nada daquilo de que este é papel da Melannie e aquele do João. Não. Tudo era
para todos e toda a equipa envolvida no filme contribuiu para que os prémios
acontecessem. Sinto-me muito feliz pelos prémios por nós conquistados porque
mostram que nós conseguimos aprender o que o Licínio esperava que aprendêssemos
da Rosa e Taiar, que foram papéis muito exigentes.
Qual é o
prémio que espera que resulte dos vários prémios conquistados pelo Comboio?
É um
milagre Comboio de sal e açúcar vencer tantos prémios, considerando as
dificuldades que o cinema moçambicano enfrenta para conseguir financiamento e
coisas de género?
Claro. Temos muitas adversidades. De certeza.
Então sermos tão premiados é uma bênção.
Quando
Licínio convidou-lhe a integrar o elenco do filme, imaginou que, depois de se
familiarizar com o seu papel, que daí poderia surgir uma premiação para si?
E de forma
cor-de-rosa?
Muito, muito cor-de-rosa.
E agora em
diante, quais os novos sonhos a sustentar nesta entrega ao cinema?
Ainda estou a digerir este sonho que era distante
e que acabo de conquistar. Tornou-se realidade muito cedo. O que me ocorre,
agora, é fazer novas produções e conquistar outros mercados e patamares.
Sempre
sentido o peso do trofeu Sotigui?
É uma grande responsabilidade. Percebi isso quando
recebi mensagens de muita gente no estrangeiro. As pessoas disseram-me que se
realizaram no meu prémio. Mesmo sem me conhecerem, trataram-me como irmã, amiga
e isso transmite responsabilidade. Enfim, o prémio não é meu, é de Moçambique
inteiro.
Que lhe
ocorre dizer às mulheres que querem ser actrizes ou artistas?
Infelizmente, esta profissão não é muito fácil. No
entanto, se for mesmo isso que desejam ser, que não desistam dos seus sonhos e
não permitam que as arranquem a única coisa que temos de tão nosso… nada é tão
nosso quanto os nossos sonhos.