Sonhou
e acreditou no seu potencial. Assim, depois de participar no programa Super
Tardes da Stv, concentrou-se na ideia de lançar um álbum: Eparaka, no qual o
músico esmera-se em contar histórias do mundo. Chama-se Deltino Guerreiro. …..
A palavra sonho é
uma das que melhor lhe caracteriza. Consegue explicar por quê?
A sua arte musical
começa como um sonho, uma utopia ou como algo concreto?
Começa como utopia, porque, quando pequeno, não me
imaginava músico, ainda que tivesse a música dentro de mim. Com o passar do
tempo, o bicho começou a crescer e comecei a sentir que poderia viver com
música. E aí começou o sonho.
Foi algo ousado?
Sim,
foi. Mesmo porque a longo prazo parecia impossível concretizar o sonho de ser
músico. Com muitas barreiras e pessoas contra, persisti em seguir a música. E
olha que tudo começou com poemas que eu fazia com um amigo, depois inseri-me
num grupo de Hip-Hop, em Nampula. Só mais tarde comecei a fazer outras coisas.
E daí cresceu a certeza de que poderia vencer nesta arte.
O título do seu
primeiro álbum, Eparaka, dá a ideia de que se considera um sujeito abençoado.
Há uma razão?
Olha,
eu saio de uma zona muito recôndita; eu caçava porcos do mato e passarinhos
numa condição muito complicada. Na altura, quando vivia em Montepuez (Cabo
Delgado), no bairro Nacate, de onde caminhava com os meus avôs para uma
machamba distante, onde lhes ajudava a cultivar a terra, nunca tinha imaginado
que chegaria a Nampula e muito menos a Maputo. Então, estou a sair de uma vila
bem pobre, rodeado por pessoas também pobres. Chegar a Nampula e, depois, a
Maputo, conseguir o pouco do sucesso que tenho… – já veio a CNN passar um dia
inteiro comigo, entre tantos artistas consagrados… –; um menino de Montepuez,
que vendia petróleo para conseguir o lanche, que ia à escola descalço, com
plástico como mochila, agora, ter um CD, só pode ser uma bênção.
Eparaka é CD plural em termos linguísticos. Como acontece a decisão de
cantar em línguas diferentes?
Há
uma coisa que eu não conseguia fazer em Nampula: cantar na minha língua
materna. A decisão de começar a cantar em emakhuwa começou aqui em Maputo.
Durante a produção de uma música, posso iniciar com o português e, depois,
sentir que tenho de partir para o inglês. A música é que exige, mas sinto-me
mais à vontade cantando em emakhuwa, mesmo porque há sentimentos que apenas
consigo expressar na minha língua materna.
Numa das músicas do
seu CD, “Sonho”, observa que todo o mundo quer ser rico. Vê nisso um problema?
Não,
não vejo. Na verdade, a causa última das pessoas é a riqueza. O problema é
cingirmo-nos apenas na riqueza financeira, e não espiritual. Nesta música
retrato o sonho de toda a gente.
Na música “Freedom”,
um sujeito pergunta o que é riqueza. Esta é uma questão de fácil resposta?
Para
mim, a liberdade é a maior riqueza, e vem de Deus.
Canta como quem se
preocupa pelo estado emocional das pessoas. Como se explica?
É
um compromisso investir na moral porque me preocupo com as pessoas.
Infelizmente, poucos de nós nos preocupamos com isso. Escrevo letras sem me
deixar levar pelo calor da emoção. E invisto muito na ideia de passar uma
mensagem para os que me escutam.
Canta para quem lhe
entende ou para quem deve entender-lhe?
Canto
para quem entende de arte e de música.
E para quem entende
de vida?
É
isso.. também canto para essas pessoas, tentando conciliar o valor da letra com
a qualidade da melodia.
A música é uma forma
de partilhar histórias vividas por si e pelos seus?
É
uma forma de narrar as histórias do mundo, o que observo diariamente.
Às
vezes oiço o tema “Deixa esse aí” e ocorre-me que pretende ser um agente da
moral para quem o ouve…
Sim,
procuro ser sempre um exemplo de boa conduta. Por isso evito, nas minhas
letras, o que denigre a mulher, a sociedade ou coisas de género. Procuro ser um
espelho para os que me seguem, e não existe espaço para desequilíbrio entre o
Deltino artista e cidadão.
O que traduz o facto
de ter conseguido estrear-se em disco?
O que acha que lhe
dá mais valor musical?
A
maneira como canto e a voz. Acho que os temas nem tanto.
Para
o estilo de música que faço é muito difícil. Para aquela que é feita a partir
do computador é menos complicado. Eu preciso pagar o tempo de muitas pessoas
para que o CD fique pronto. E tenho que gerir muitas pessoas.
Sinto que às vezes
mete-se num diálogo em forma de monólogo. Exemplo disso é a música “Se eu te
dissesse”. Quem idealiza quando tenta comunicar por via das suas letras?
Idealizo
Deus e pessoas que querem expressar alguma coisa.
Eparaka tem 10 músicas e 42 minutos. A gravação deste disco correu como
sonhou?
Correu
mais do que eu esperava. E o álbum deu-me uma visibilidade que eu não esperava.
Foi no Eparaka que me encontrei, graças a Deus, porque trabalhei com um
produtor muito competente.
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