A função da
música é dar às pessoas o caminho da beleza e de Deus. É caminhar na beleza de
um sonho e na imensidão do amor. O talento é dado para servir e repartir, o
contrário não serve. Não há cache que pague isso.Valdemar Bastos (músico)
Na centelha de hoje vou falar-lhes do conceituado músico João António Estima, ou simplesmente, João Estima. Não apresentarei o
currículo do músico, como alguns desejariam, mas falarei da terapia das suas
canções, numa altura em que a sociedade moçambicana padece de podridão moral. A
falta de emprego e de oportunidade empurram algumas pessoas, sem arcabouço
musical, para o mundo da música. Com a ajuda de potenciais patrocinadores, em
condições de concorrência oligopolista, esses vadios azinha são colocadas no galarim
da pirâmide da fama. As canções, quase todas desprovidas de apreciáveis
conteúdos musicais, são aplaudidas pelas turbas delirantes. Dizer algumas
asneiras é uma forma de manifestar a ignorância, perdoa-se.O que não se pode tolerar nem perdoar é a proliferação de
pacóvios que utilizam a música para promover a mediocridade. Estão a
comprometer a qualidade de vida das gerações futuras, porque a música é também
uma forma de ensinar. Tudo aquilo que vem rápido vai fácil. Este é o veredicto
de muitos músicos que atingiram o poleiro da fama sem nunca terem arregaçado as
mangas, tal como os cágados que são colocados em árvores.
Dizia Mário da Graça Machungo, antigo presidente do
Millennium BIM, que cágados não sobem em árvores. Se virem algum numa árvore é
porque alguém o colocou lá. Prepare-se uma rede elástica, para quando cair, não
possa aleijar-se.Temos disso na música, por culpa dos patrocinadores e do
estrabismo étnico-racial. Tal como diria o meu amigo Nkulu, em desertos há
sempre alguma vegetação, embora escassa, para fazer a diferença. João Estima é
um oásis no seio do deserto. Alguns sofalenses dizem com toda a legitimidade
que o povo estima o Estima, tanto quanto as músicas. Para quem a boa saúde não
lhe assiste, as músicas de Estima são de facto uma terapia. Penso que os
médicos, em lugar de recomendarem drogas que só reduzem a vitalidade do fígado,
deviam prescrever as músicas de Estima, para o saneamento da alma. É difícil
ouvir uma composição musical de João Estima e a pessoa ficar indiferente. As
músicas estão carregadas de pedagogia e servem para todas as idades e géneros.
Há algo de nostálgico. Não provoca masoquismo, pelo contrário, são temperantes
e reconfortantes.
Em “Zaperekeke” (o mesmo que dizer “entregue-se”), João
Estima faz um forte apelo à Renamo no sentido de se juntar aos esforços do
governo e de outros sectores da sociedade para o fim do conflito militar.
Escrita no auge da guerra dos 16 anos, o cantor em referência, aconselha aos
guerrilheiros da Renamo o seguinte:“Entregai-vos.
Mato é para cobras. Venham participar em actividades de desenvolvimento do país.”
Esta música conquistou a intemporalidade
e ainda hoje continua a fazer todo sentido esse apelo. João Estima é também um
profeta. É comum alguns pseudo-músicos quando atingem a “loucura” da fama
esquecer suas origens. Diferentemente desses pseudo-músicos, João Estima
imortaliza a sua terra natal (Marromeu). Através da música “Marromeu
mwananga…ni mwathu…kundikomera”, o seu primeiro e único trabalho
discográfico gravado em 2010, Estima exalta o distrito da sua natalidade e
afirma que “… por mais que vá disfrutar do bem e do melhor na diáspora, Marromeu
lhe agrada. Aqui nasci, aqui estudei, aqui trabalhei. Marromeu agrada-me, a par
da sua gente, também pelo seu desenvolvimento.”Em outra composição musical intitulada Rosita, o cantor
homenageia à sua esposa Rosa Rosário (Rosita). Estima declara a sua amada que
“Tu és minha esposa. A primeira e única que Deus me deu. A mãe dos nossos
filhos.” É sem dúvida uma homenagem que faz, não apenas a Rosita, como também a
todas mulheres do país e do mundo em geral (amém). João Estima também enaltece
os feitos do antigo presidente da República Armando Guebuza. Em “Tinapereka
takhuta kuna pai Guebuza”, o cantor agradece pela construção da linha
ferroviária de Sena, que passa por Marromeu.
Para Estima (julgo que este é o sentimento de todos os
moçambicanos), a construçã0o desta linha contribuiu para reduziu-se os preços
astronómicos das passagens aéreas em curso no país. A este propósito o autor
goza “Subo o comboio como se estivesse a subir avião. Com a linha de Sena,
todos os caminhos hoje vão dar à Marromeu.” Não reconhecer este feito,
independentemente do que hoje se diz sobre Armando Guebuza, é uma falsa
cegueira de quem não quer ver.O talento de João Estima é ímpar. Pelos serviços que têm
prestado à nação moçambicana, através da promoção dos valores culturais, João
Estima merecia uma homenagem pública por parte do governo provincial de Sofala.
Sei que a Excelentíssima Senhora Governadora de Sofala, Maria Helena Taibo, tem
feito muito pelos músicos sofalense. Para ela, Senhora Governadora, vai também
uma palavra de homenagem. ZICOMO e um abraço nhúngue ao meu amigo de infância
B. Chuva.
WAMPHULA FAX
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