Mesmo depois de ter sofrido o assalto que lhe custou a
perda de três obras inéditas – um romance e dois livros científicos –, que
apenas aguardavam pela edição, Calane da Silva não descansa. Desta vez junta-se
a Ana Paula Oliveira para uma aventura ao universo literário infantil.Trata-se
da colectânea de contos intitulada “A cor dos bichos”. A obra criada em apenas
dois meses aborda a natureza, no caso, os animais. Mas, segundo explicou o
escritor, a natureza é aqui resgatada como um ensinamento “para sermos mais
humanos, para sermos mais compreensivos em relação ao outro e, sobretudo, não
olharmos às pessoas pela cor da pele, pela sua ideologia, pela sua maneira de
estar e pensar. Temos que aceitar o outro como ele é”, daí que esse livro tem
uma grande importância simbólica.
Outro dado interessante desta obra é que Calane da Silva
e Ana Paula Oliveira, com patrocínio de uma instituição bancária do país,
prescindiram dos direitos do autor. Por isso, serão distribuídas, numa primeira
fase, três mil livros gratuitamente às escolas, esperando que o número cresça
até seis mil exemplares.Este projecto não deixa de combinar com a iniciativa
ligada ao Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, “Moçambique meu
sonho”, no qual Calane e outros artistas fazem parte. Neste momento, foi
lançado um concurso para melhorar a leitura, escrita e a capacidade de desenho
de seis milhões de crianças. “Este lançamento que vai decorrer quinta-feira, na
livraria centenária Minerva Central, em Maputo, está preocupado em colocar o
livro às crianças nas escolas”, frisou o escritor.O co-autor não deixou de
referenciar que este projecto é muito interessante para inspirar todos os
autores a contribuir para que o livro chegue aos estudantes.
Ana Paula Oliveira estreia-se nas lides literárias em
grande, ao lado do embondeiro da literatura moçambicana. Ao explicar como essa
co-autoria nasceu, Calane disse apenas que o facto de serem amigos e por ter
acreditado no seu talento pesou para essa colaboração.
Aliás, “no livro ela tem mais contos do que eu e nós não
assinamos as estórias, dando a impressão que foi escrito por duas mãos. E isso
é um outro tipo de parceria muito importante, não há aqui um ego inflamado,
deixamos que o livro fluísse dessa maneira, também um facto muito interessante
do ponto de vista literário”.Calane da Silva passeia por quase todos os géneros
literários, mas com destaque aos livros investigativos linguístico-literária.Actualmente,
o escritor explora uma área pouco abordada que é a Antropologia Espiritual. Mas
ficou feliz quando num seminário internacional que aconteceu em Portugal, seu
colega de painel falou sobre Ecologia Espiritual. “Isto quer dizer que estas
matérias hoje já são do fórum académico e que a vanguarda dos universitários olha
para este lado holístico e espiritual da própria ciência”, finalizou.
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