sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Filha de peixe sabe nadar!

Resultado de imagem para xixel langaLanga é um dos apelidos da família moçambicana e está associada a grandes nomes, em vários níveis, inclusive artísticos. Só uma família é capaz de servir como exemplo, claro, a família Langa. Aqui encontrámos Hortêncio, um nome sobejamente reconhecido no panorama musical. Fora das suas rédeas como pai, os seus quatro filhos – Dário, Texito, Xixel e Josué – seguiram o mesmo destino.Desta família, interessa-nos debruçar sobre a única menina que hoje soma 33 anos e, como boa filha que é, deu de presente a Hortêncio um casal de netos. Mas não é pela idade e pelos filhos que Xixel merece a nossa atenção. É, sim, pelo seu terceiro “bebé”: “Inside me” (Dentro de mim).Embora não seja um bebé como os outros dois, Xixel trata esta graça com o mesmo carinho. Disponível desde Novembro, “Inside me” é a primeira aventura discográfica da cantora que celebra 15 anos de estrada a solo e mais cinco como corista em vários projectos musicais.O álbum não traz outra pessoa senão a mesma Xisseve Janett Hortêncio Ernesto Langa, tal como está gravado na sua documentação. 
Resultado de imagem para xixel langaAliás, quem quiser conhecer a cantora com profundidade tem que mergulhar “inside” nela. “O meu primeiro álbum é mesmo uma introdução ao que eu sou, como se fosse um exame de admissão. Depois, próximos álbuns serão como cadeira a defender”, metaforizou a artista.Quanto ao conteúdo, há de tudo, afinal, Xixel é uma artista plural. Nestas 14 faixas de afro-jazz (ritmo que explora com todas as paixões), traz uma “mensagem vasta: desde a crença num ser Todo-poderoso, ao amor, à luta pela vida de qualquer forma, e até mesmo à violência doméstica”, afirmou. É, Xixel conta neste álbum as suas estórias (que não são poucas), mas, ao mesmo tempo, não deixam de ser do quotidiano dos moçambicanos.O CD ainda não foi lançado oficialmente. 
Resultado de imagem para xixel langa
A artista pensa numa pomposa apresentação, digna de um trabalho de qualidade e feito com amor, mas não quis avançar quaisquer detalhes a respeito. Enquanto isso, convida aos seus fãs que saboreiem as músicas, pois o CD está disponível na internet e nalguns pontos da cidade de Maputo. Entretanto, não deixa de ser ela mesma o melhor ponto.“Eu compus as músicas, assim como participei da co-produção do mesmo, estive dentro dos arranjos e tudo mais...”, esta é uma voz de quem não é apenas dona de uma voz linda e suave, mas de quem transpirou e deu tudo para este acontecimento. Já que a música não é de todo uma actividade solitária em dois temas teve a colaboração do Vintani Nafassi (préstimos em língua makonde) e D’Manyissa na faixa “Ubuya hi kwini”, que por sinal ganhou algumas mexidas.Todo o álbum foi gravado na vizinha África do Sul, onde Xixel esteve radicada por cinco anos (de 2006 à 2011). Logo é claro o motivo da cantora ter andado em três estúdios de Cape Town a registar as suas criações naquele país que acolhe muitos músicos moçambicanos e não só. 
Resultado de imagem para xixel langaAinda que não justificasse, mas como a perguntamos: “gravei na África do Sul porque, para mim, foi o local onde solidifiquei minha profissão de artista/músico e lá aprendi a seriedade da vida de um músico, no que diz respeito ao bom desempenho, pontualidade, seriedade, respeito, etc.”, mas não só (mesmo não sendo pouco), “África do Sul oferece todas condições que eu necessito para me realizar artisticamente, mesmo não precisando viver por lá”, acrescentou.“A minha realização foi graças à minha atitude e exigência de alguns admiradores”, confessou. E é desta forma que “quero mostrar ao mundo, como vejo a música, e de que maneira pode ela ser explorada e sentida”, porém, o seu trabalho não termina aqui. Pretende, nos próximos tempos, “mostrar ao mundo o meu produto e conceito de música. Álbum pra mim é uma defesa, em que a teoria é música”.Porque o amor é a tónica deste trabalho, Xixel Langa tem uma novidade para agraciar os namorados na celebração do São Valetim. Quem comprar dois CD tem direito a batom e lipgloss, já com cinco CD ganha um perfume e esmalte.

Alavanca cultural

A cidade dinamarquesa de Aarhus, a segunda cidade intelectual e cultural deste país, foi considerada a capital europeia da cultura 2017. É nesta cidade onde reside o músico Gimo Remane Mendes, antigo integrante da emblemática banda Eyuphuro. “É a cidade onde sempre vivi e trabalho na escola de música já há 21 anos (saiu vencedora e reconhecida a nível da Europa como a Capital Europeia todo o ano de 2017), naturalmente, trabalhando com o Conselho Municipal local como estrutura política que tem a responsabilidade de orientar a sociedade em termos de actividades culturais e outros serviços”, explica o músico Gimo Remane Mendes.
Resultado de imagem para Gimo Remane Mendes dinamarcaGimo Remane foi apresentado como um músico e professor oriundo de Moçambique. “Na abertura do ano, é normal a escola de música, que é propriedade do Estado, fazê-lo com alguns cânticos na sala nobre com toda a estrutura da Província. Desta vez, fui eu que tive a honra e o privilégio de ser apresentado com um compositor e cantor de Moçambique. Isso é bom para Moçambique, se o país souber aproveitar esta oportunidade para a criação de um intercâmbio a vários níveis. Espero que o ministério de tutela e os responsáveis pelo desenvolvimento da cultura moçambicana saibam aproveitar este tipo de oportunidade e abertura para lançar o país culturalmente além-fronteira”, frisa Gimo Remane. O músico considera que as boas relações criadas durante os 21 anos que se encontra a residir na Dinamarca, aliadas à entrega do governo de Moçambique, iriam sortir bons efeitos a todos os níveis. “Tenho muitos bons contactos que poderiam dar vantagens ao país em termos de turismo, cultura, desporto e outros negócios”, frisa o músico. Gimo Remane considera que o governo tem de ser mais eficaz na procura de parcerias que visam o desenvolvimento cultural. “Mas é necessário que sejamos bons pescadores. O nosso governo deviainvestir em alguns artistas e intelectuais na diáspora a fim destes se sentirem assistidos e aconchegados”, aponta o músico. O manancial cultural nacional é uma alavanca para que o país seja reconhecido a nível mundial, entretanto, não é devidamente aproveitado pelas estruturas competentes. “Moçambique é uma relíquia, mas não basta a diplomacia político-cultural para dar outros efeitos”, remata. O músico comentou sobre as notícias acerca da tensão político-militar que se faz sentir no país. “É lamentável a situação que o país está a viver. Custou-nos muito alcançarmos a paz. A guerra destruiu o país, em várias vertentes, que até hoje as feridas ainda não sararam. Agora, ouvir que o país está a voltar àquele cenário triste que vivemos num passado recente, é preocupante.Esperamos que as partes envolvidas tenham sensibilidade para resolver a situação do país”, apela. Os artistas e a sociedade civil moçambicana têm de mostrar a sua indignação face à situação que o país  vive. “Os artistas devem desempenhar o seu papel, apresentando o seu posicionamento perante o ambiente que se vive em Moçambique. 
Resultado de imagem para Gimo Remane Mendes dinamarca
É nestes momentos que os artistas devem apelar mais para a questão da reconciliação. Em tempos, o artista sabia desempenhar o seu papel na sociedade, mas, actualmente, a situação é diferente, parece que estão indiferentes. Os artistas são as figuras que dão voz à sociedade. É preciso ter isso em mente. Saber cumprir o seu papel do desenvolvimento da sociedade. Não é uma tarefa fácil. Mas é preciso enfrentar os obstáculos e cumprir o seu dever perante a sociedade em que vive”, remata. A.S

ViDa!