Pedro
Pimenta lamenta a falta de reconhecimentos dos fazedores da sétima arte no
país. Para o cineasta nomeado para Academia dos Óscares, nos EUA, Moçambique precisa de políticas que fomentem a produção do cinema.
Mesmo com imensos obstáculos, a qualidade do cinema moçambicano continua a ser reconhecida a nível internacional. Se, por um lado, produtoras
estrangeiras investem nos actores nacionais e os filmes vencem prémios importantes, por outro, cineastas são distinguidos. Este é o caso de Pedro Pimenta, nomeado recentemente para
membro da Academia que atribui os Óscares nos Estados Unidos de América. Esta nomeação, resultado do grande contributo que o artista
exerceu para o desenvolvimento do cinema moçambicano, e (in)directamente, do mundo, vai
permitir-lhe exercer poder de voto em três categorias subordinadas ao Prémio de
cinema, nomeadamente, melhor filme Estrangeiro, melhor animação e documentários.
Assim, Pimenta terá acesso aos filmes nomeados para Óscares, o que se enquadra na necessidade da Academia
norte-americana garantir na premiação a maior diversidade atinente à produção cinematográfica.
Para o cineasta moçambicano,
esta distinção tem
um significado muito particular: “os
santos da casa não
fazem milagres. Este é um
reconhecimento ao mais alto nível, do
meu agrado, mas não
deixa de ser estranho que o reconhecimento não seja da casa. Ainda não é da
casa. Mas isto não é problema, continuamos a trabalhar como sempre fizemos
e esperamos que esta será uma
contribuição válida”.
Há mais ou menos um mês, na sequência da estreia do filme Ruth, em Maputo,
Josefina Massango, que, naquela produção, desempenha o papel de mãe de Eusébio,
também lamentou o facto de internamente não existir reconhecimento ao seu trabalho e dos seus
colegas. A actriz chegou a dizer que, por isso, a sua obra é mais conhecida no
estrangeiro do que a nível interno. Desta vez, quem se queixa do mesmo problema
é Pedro Pimenta. E onde reside o problema do fenómeno que interfere na
“decadência” da produção
cinematográfica? “Na falta de liderança esclarecida, porque, com liderança esclarecida pode-se identificar facilmente os
valores e os esforços de
várias pessoas que continuam a tornar o cinema nacional
uma coisa reconhecida pelo mundo e respeitada. O não reconhecimento em casa é indício de
uma falta de liderança
esclarecida”,
lamentou o cineasta a ausência
de políticas estimuladoras de um bom ambiente.Pedro Pimenta é
um dos oito cineastas africanos nomeados para Academia que atribui os Óscares, o único
dos PALOP e o primeiro moçambicano
com direito a voto. A distinção acrescenta ao artista muito trabalho. Por exemplo,
agora, já tem 13 filmes por ver, dos que serão distinguidos para o ano.
Não obstante, uma das formas de ultrapassar os boicotes
atinentes ao cinema moçambicano
é, de acordo com Pedro Pimenta, reconhecer-se,
apostar-se e divulgar-se filmes nacionais, pois, deste modo, é possível que as
autoridades competentes se dêem conta da existência de um público ávido e
interessado. Disso, tem esperança o cineasta, pode ser que se torne possível a delimitação de políticas
de fomento de cinema.
Questionado sobre qual é o ponto forte de Moçambique ao nível
cinematográfico,
Pimenta explicou que durante muito tempo foi o documentário. No entanto, nos últimos anos, tem sido a ficção, seja curta ou longa-metragem. E o cineasta especula
que pode estar por detrás disso a complexidade da realidade socioeconómica e
cultural que o país atravessa, que faz com o documentário seja um género
difícil de apreender. “A ficção oferece ao criador mais liberdade, mais
possibilidade de reinventar”.
Portanto, embora a nova vaga de cineastas tenha mais oportunidades de produção, com o desenvolvimento da tecnologia, enfrenta mais
dificuldades do que antigamente, mesmo com cursos de cinema, algo que no
passado não
havia, frisou Pimenta.
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