Moçambique perdeu a 11 de Agosto de 2012 um dos seus
jornalistas de referência, com a morte de Kon Nam, 72 anos, uma figura dos
momentos decisivos da actividade, no país, da época colonial ao
multipartidarismo, passando pelo período revolucionário pós-independência.
O trabalho de Kok Nam
foi eternizado em um livro. A obra foi publicada pela editora Marimbique. As
imagens contam o percurso histórico deste fotojornalista. Mas não é só de
fotografias que o livro Preto no Branco é preenchido, existem nele relatos de
individualidades que directas ou indirectamente estão ligadas ao percurso do
nosso fotógrafo. Delas destacamos Alves Gomes, Calane da Silva, Graça Machel,
Luís Cabaço, Luís Bernardo Honwana, Mota Lopes, Nelma Saúte, Patrícia Haye
entre outros.Com cerca de 88 páginas, o livro traz a interpretação do trabalho
deste fotógrafo que marcou pelo seu trabalho e jeito característico de ser.
“De trato fácil,
incrivelmente jovial, cultivando sempre a modéstia e a humildade, os seus
colegas e amigos guardam dele um grande sentido de profissionalismo e rigor, a
defesa tenaz da integridade e dos princípios”, descreve um comunicado enviado
pelo mediacoop no dia da morte de Nam.
O seu acervo
fotográfico, espalhado pelos quatro continentes, é um dos mais importantes
bancos de imagem disponíveis sobre Moçambique. Gomes é o coordenador do livro,
além desta função, a família de Kok lhe deu função: “Sou responsável por
preservar o espólio (arquivo de fotografias) de Kok Nam”. Alves Gomes têm de
classificar as fotografias e fazer o registo na SOMAS, mas as recordações
retardam o seu trabalho. “Sempre que vejo as fotografias, é complicado ele foi
para mim um amigo, vem-me recordações, fico horas a reviver aqueles momentos”.
Para que este espolia
existisse, foi vital o papel da Arquivista Narcézia Massango. “Trabalhei na
Revista Tempo como Arquivista. Ajudei a conservar boa parte das fotografias de
Kok Nom, mas algumas perderam-se com as transformações, mudanças de edifício,
que a revista passou”.
Kok Nam é filho de
imigrantes camponeses da província chinesa de Cantão. Nasceu em 1939 em
Lourenço Marques, actual Maputo. Aos 17 anos iniciou-se como jornalista. Nos
anos 1960 passou de órgãos (Diário de Moçambique e Voz Africana) tentavam furar
o muro de silêncio colonial.
Na década 1970 esteve na fundação da revista Tempo
o berço de uma geração de jornalistas inconformistas. Com um currículo
invejável, já publicou no Expresso (Portugal) e no "The New York Times"
(Estados Unidos da América).
Durante o período
revolucionário, «dominado pelo partido único, a Frelimo», permaneceu na
“Tempo”. Em 1990, sua casa, foi redigido o manuscrito do documento "O
direito do povo à Informação", exigindo a liberdade de imprensa como um
direito constitucional.
Em 1991 com os seus
colegas Naita Ussene, Fernando Manuel e António Elias (já falecido) criou a
Mediacoop, então uma cooperativa, que lançou o diário por fax Mediafax e o
semanário Savana, de que era director desde 1994 até a sua morte em 11 de
Agosto 2012. Em reconhecimento a sua verticalidade Kok Nam é até hoje director
emérito do Semanário Savana.
Para além da facilidade
em manejar a máquina fotográfica, Kok Nam tinha outro talento. “O panela, como
era chamado, comia que era uma maravilha. Bom cozinheiro, os seus dotes
culinário eram uma da sua marca” recorda Calane num tom sorridente. Kok Nam
deixou dois filhos, a Ana Michelle e o Nuno Miguel e um legado no
fotojornalismo nacional.
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