A cidade
dinamarquesa de Aarhus, a segunda cidade intelectual e cultural deste país, foi
considerada a capital europeia da cultura 2017. É nesta cidade onde reside o
músico Gimo Remane Mendes, antigo integrante da emblemática banda Eyuphuro. “É
a cidade onde sempre vivi e trabalho na escola de música já há 21 anos (saiu
vencedora e reconhecida a nível da Europa como a Capital Europeia todo o ano de
2017), naturalmente, trabalhando com o Conselho Municipal local como estrutura
política que tem a responsabilidade de orientar a sociedade em termos de
actividades culturais e outros serviços”, explica o músico Gimo Remane Mendes.
Gimo Remane
foi apresentado como um músico e professor oriundo de Moçambique. “Na abertura do
ano, é normal a escola de música, que é propriedade do Estado, fazê-lo com
alguns cânticos na sala nobre com toda a estrutura da Província. Desta vez, fui
eu que tive a honra e o privilégio de ser apresentado com um compositor e cantor
de Moçambique. Isso é bom para Moçambique, se o país souber aproveitar esta
oportunidade para a criação de um intercâmbio a vários níveis. Espero que o
ministério de tutela e os responsáveis pelo desenvolvimento da cultura
moçambicana saibam aproveitar este tipo de oportunidade e abertura para lançar
o país culturalmente além-fronteira”, frisa Gimo Remane. O músico considera que
as boas relações criadas durante os 21 anos que se encontra a residir na
Dinamarca, aliadas à entrega do governo de Moçambique, iriam sortir bons efeitos
a todos os níveis. “Tenho muitos bons contactos que poderiam dar vantagens ao
país em termos de turismo, cultura, desporto e outros negócios”, frisa o
músico. Gimo Remane considera que o governo tem de ser mais eficaz na procura
de parcerias que visam o desenvolvimento cultural. “Mas é necessário que
sejamos bons pescadores. O nosso governo deviainvestir em alguns artistas e
intelectuais na diáspora a fim destes se sentirem assistidos e aconchegados”,
aponta o músico. O manancial cultural nacional é uma alavanca para que o país
seja reconhecido a nível mundial, entretanto, não é devidamente aproveitado
pelas estruturas competentes. “Moçambique é uma relíquia, mas não basta a
diplomacia político-cultural
para dar outros efeitos”, remata. O músico comentou sobre as notícias acerca da
tensão político-militar que se faz sentir no país. “É lamentável a situação que
o país está a viver. Custou-nos muito alcançarmos a paz. A guerra destruiu o
país, em várias vertentes, que até hoje as feridas ainda não sararam. Agora,
ouvir que o país está a voltar àquele cenário triste que vivemos num passado
recente, é preocupante.Esperamos que as partes envolvidas tenham sensibilidade
para resolver a situação do país”, apela. Os artistas e a sociedade civil
moçambicana têm de mostrar a sua indignação face à situação que o país vive. “Os artistas devem desempenhar o seu
papel, apresentando o seu posicionamento perante o ambiente que se vive em
Moçambique.
É nestes momentos que os artistas devem apelar mais para a questão da
reconciliação. Em tempos, o artista sabia desempenhar o seu papel na sociedade,
mas, actualmente, a situação é diferente, parece que estão indiferentes. Os
artistas são as figuras que dão voz à sociedade. É preciso ter isso em mente.
Saber cumprir o seu papel do desenvolvimento da sociedade. Não é uma tarefa
fácil. Mas é preciso enfrentar os obstáculos e cumprir o seu dever perante a
sociedade em que vive”, remata. A.S
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