A Texto Editores e a Associação
dos Médicos Escritores e Artistas de Moçambique (AMEAM) publicaram
recentemente o livro do Prof. Hélder Martins intitulado Casa dos Estudantes do Império,
Subsídios para a História do seu período mais decisivo (1953 a 19619).
Hélder Martins
concentra a sua análise no período 1953-1961, que ele considera o período mais decisivo
da vida da CEI e que ele viveu intensamente e onde teve uma participação
activa. Porém, também se refere a alguns antecedentes deste período. A sua
análise limita-se à Sede, pois foi aí a sua vivência. Este livro é um
testemunho das suas memórias daquilo em que participou, mas também confrontou
as suas memórias com as de outros, quetambém participaram na vida da CEI.
Também fez uma intensa pesquisa bibliográfica. Este livro é o resultado de tudo
isso. Sempre apoiado no rigor dos factos históricos, o autor desmistifica alguns
mitos que se criaram à volta da CEI. “Aspecto inovador nessas análises feitas
foi confrontar alguns mitos que davam uma ideia de geração fantástica, que se entregou
à luta e são quase heróis. E que saíram como dirigentes da luta de libertação
dos seus países. Isso foi resultado do saudosismo e emoção do momento. Mito é
perigoso porque a juventude tem outros desafios. Em Moçambique temos os
desafios da corrupção, nepotismo. Não vou falar das dívidas ocultas. Estamos
num sistema que beneficia alguns. A exclusão social é vista na maioria dos
moçambicanos. O mito perigoso deve ser desencorajado e combatido. A juventude
tem de fazer algo para combater os problemas actuais. É preciso desfazer este
mito. O autor
analisa também a influência da CEI na luta de libertação de cada uma das
ex-colónias portuguesas e conclui que foi em Moçambique que a influência da CEI,
como escola de nacionalismo africano e de consolidação da consciência
anticolonial, foi “Mito é perigoso porque a juventude tem outros desafios” menos
intensa. “Havia pessoas na Casa que não queriam saber de política. Tínhamos
carácter humano. Não éramos heróis. Essa ideia alfobre do colonialismo africano
aparece em muitos documentos de que na Casa nasceram os dirigentes africanos. E
que se não houvesse a casa do Império não haveria luta pela independência.
Moçambique é o
país com menos influência na Casa do Império. Houve em Angola. Faço análise de
cada país como ninguém fez. O livro tem 260 páginas. E ninguém escreveu sobre a Casa dos
Estudantes do Império com essas páginas em termos de quantidade. Mesmo as
teses. Sobre a qualidade as pessoas dirão”, encaracola Hélder Martins. Neste
livro, o autor utilizou as suas memórias de activista da CEI (Casa do Estudante
do Império), mas sobretudo fez um importante trabalho de pesquisa histórica, o
que lhe permitiu documentar o seu texto com muitas fotos e digitações de documentos,
nomeadamente, com as digitalizações do Diário do Governo com as decisões
administrativas sobre a CEI. “A história constrói-se com factos e depois a sua
interpretação não pode fugir a esses factos.
Quando a PIDE
fechou a Casa levou todos os documentos e não aparecem. Devem estar na
Torre do
Tombo. Houve duas teses de doutoramento sobre a Casa na Itália e Portugal e
trabalhos de jornalismo investigativo. O erro é que todos eles não foram
consultar o Diários do Governo”, aponta Hélder Martins. O Prof. Hélder Martins
revela neste livro a verdadeira data e circunstâncias da criação da CEI, bem
como descreve a complicada luta para pôr fim à Primeira Comissão Administrativa. O autor também põe em
evidencia, com grande detalhe, o trabalho realizado pelas cinco direcções
democraticamente eleitas pelos estudantes, entre Fevereiro de1957 e Dezembro de
1960. A sua aturada pesquisa histórica permitiu-lhe afirmar que nunca houve
nenhuma decisão administrativa a legalizar o encerramento da CEI.
“Salazar deu
ordem à PIDE para ir lá e que os ministros legalizariam as decisões. Não há uma
decisão administrativa nem antes e depois sobre o encerramento. O estado fascista
era bastante burocrata para dar legalidade. Nunca foi legalizado o encerramento
da Casa dos Estudantes do Império. O Prof. Dr. Fernando Vaz é o único
Presidente da comissão administrativa ainda vivo”, acrescenta. No prefácio do
livro, o Prof. Dr. Fernando Vaz escreve: “este livro de memórias é o testemunho
duma etapa histórica da vida de muitos estudantes, que das Colónias vinham para
Portugal fazer os estudos superiores”. “O Dr. Hélder
Martins foi um aluno distinto e desenvolveu grande actividade política e
associativa. Nesta obra não deixou ficar os seus créditos em mãos alheias!”. “Para a
elaboração deste livro, o Dr. Hélder Martins recolheu contribuições de muitos
colegas nossos,
contemporâneos, pesquizou exaustivamente tudo o que se escreveu sobre a CEI, o
que permitiu grande rigor histórico em todas as descrições que faz e,
sobretudo, nas datas dos principais acontecimentos”, Grafa Fernando Vaz.
A.S
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