Pecado 18: Ridicularização do Hip-Hop
Preferi criar um dos pecados para falar do
Hip- -Hop, um ritmo que tanto aprecio e que, para mim, é uma luz para perceber
o rumo das sociedades. O ponto é o seguinte: a sociedade foi estruturada de tal
forma que nos faz perceber o hip-hop (rap) como um ritmo de mendigos,
criminosos ou delinquentes. Mas engana-se quem assim pensa, pois, neste
grupo/estilo musical, muitas são as verdades ou realidades cantadas que, se
escutadas, poderiam mudar o rumo das coisas para o melhor. O rap é, de alguma
forma, um ritmo de manifestação ou repúdio a determinados assuntos
(pacificamente), e ele leva consigo uma estrutura de MCs que vivem a dor da
sociedade e interpretam isso em suas letras. Há muitos estudiosos que estão
neste estilo musical, alguns são os chamados ghost writers, outros são os que
escrevem e cantam pessoalmente. Não se pode ignorar o facto de existirem os
rapazes de swag, que só falam coisas e não ajudam em nada o movimento rap,
porque mais insultam do que trazem mensagem. Daí que digo que se precisamos que
o rap/hip-hop seja respeitado, é importante que também se repense no que se
canta, em como se canta, sob o risco de penalizar gente que dia e noite elabora
logicamente as suas músicas para depois ver-se marginalizado por causa de
muitos que acreditam que tatuar-se é o código alfa de um verdadeiro rapper.
Pecado 19:
Ridicularizar um fã versus uma sociedade que não sabe aplaudir.
É
incrível às vezes ver a forma como as pessoas não querem mostrar que são fãs de
seus músicos predilectos. Agem de tal forma que até engolem a lágrima de emoção
que quer-se libertar na hora do show ou quando o vêem caminhar. Percebo que
estamos numa sociedade em que, por vezes, se tem medo de exprimir os
sentimentos. Ou melhor, as pessoas fazem-se de difíceis ao ponto de esconderem
que gostam tanto de um determinado artista. Isso pode fazer de nós uma
sociedade privada no secretismo do sentimento, e nalgum momento, agoniada,
porque quando um sentimento é aprisionado é como se um pouco de nós fosse
impedido de se libertar (olhe que não estou a falar de coisas de amor). O ponto
deste pecado é que não existe, necessariamente, um músico sem um fã. Ou seja,
há uma relação directa entre estes dois, e por incrível que pareça, o músico
precisa mais do fã do que o fã precisa de si. Daí a necessidade de saber gerir
a ansiedade de seus fãs e saber dar resposta quando estes fazem perguntas e
inquietam-se sobre o seu paradeiro.
Pecado 20:
Um governo que não reconhece seus artistas
Espero que, ao falar deste pecado, não seja
percebido como um político falando, até porque não tenho tais traços. Trago
este pecado no sentido de problematizar o papel do estado na promoção da
cultura/música moçambicana. É preciso que se criem essencialmente ligações
fortes entre um estado e os artistas. Poderíamos, por exemplo, pensar numa
possibilidade de o Presidente da República convidar artistas para cantarem e
estarem junto de si numa conversa num fim-de- -semana na presidência. Caso isto
acontecesse, não querendo aqui citar os métodos para escolher os artistas que
lá estariam, abririam uma época em que olha para a presidência como, também, um
local onde se encontra o povo, um local onde debatem- -se ideias, ainda que
fosse informalmente. Enfim, não cabe a mim decidir isto. Talvez o importante a
discutir aqui seja como o Ministério da Cultura gerencia a vida dos músicos e
faz destes um grupo “privilegiado” ou que mereça alguma atenção. O Ministério
tem que ser uma caixa de reclamação que recebe problemas dos músicos e, aos mesmo
tempo, os resolver, se estiverem ao seu alcance.
Pecado 21:
Privar o pensamento só na cultura local pode ser uma fatalidade Moçambique não
existe, necessariamente, sem os outros países do mundo.
É importante perceber que cantar a sua
história não significa ocultar a história do outro. Daí que faz-me pensar que
precisa- -se, às vezes, de se pensar fora da caixa e não ter medo de cantar o
outro mundo, não ter-se medo de fazer o samba enquanto se é moçambicano. Isso
não tira nenhuma originalidade e não é crime nenhum, pelo contrário, até mostra
o quanto podes estar a par dos acontecimentos e que conheces a cultura de
outros povos. Deve-se pensar porquê alguns artistas se notam muitos nalguns
países. Alguns, é porque tem um objectivo nas suas carreiras e escrevem o
“Plano de carreira” no sentido de identificar o seu público-alvo. É importante
lembrar que um músico é comparado a um empresário que quer abrir um jornal. Não
pode querer criar um jornal só tendo dinheiro para a primeira impressão, sem
saber de onde vai surgir o dinheiro para as outras edições. O que estou a
atentar dizer é que enquanto se pensa como produzir as músicas, é também
importante saber como dar continuidade aos seus trabalhos.
Pecado 22:
Ter lucros na música/música como empresa
As pessoas
pensam que a música é só para cantar-se em casamentos, fazer a vovozinha sem
dentes sorrir e esquecer-se da velhice. Pelo contrário, a música é sim uma
indústria, ou pelo menos deveria ser. As pessoas devem viver por aquilo que
elas acreditam ou que as faz completas. Estamos perante uma realidade em que
fazer música não é, provavelmente, uma forma de vida, porque não garante lucros
e nem garante o sustento das famílias, por isso muitos entram e saem da
carreira, ainda que gostem de fazer música. Assim como os outros profissionais
têm/deveriam ter carteiras profissionais, os músicos também devem ter, porque
são uma estrutura organizada que garante fundos, dinheiro que ainda serve ao
próprio estado, ou melhor, é importante que se discuta quem é ou não músico,
quais são os critérios para sê-lo, ou ainda que qualidades exigidas para que se
debata ao mesmo tempo a possibilidade de torná-la uma empresa propriamente
dita. Nós é que ainda não tenhamos a música como forma de rendimento, mas os
outros países, até mesmo Angola que tanto “amamos”, têm cantores/ músicos que
vivem essencialmente da música e ficam ricos por ela (acredito que aqui também
possam existir/existem).
Sérgio dos Céus Nelson
NB: Há
que se pensar na formação dos músicos, de forma a perceber como se comportam ou
escrevem suas letras.